Perdi-me naquele instante de tempo. Fiquei nesse vislumbre do passado e não mais regressei. É como uma cassete estragada que chega ao fim e retorna ao início, incessantemente. Talvez porque deseje mudar-lhe o fim, talvez porque pretenda mudar a única palavra que disse, talvez porque, voltando atrás, faria tudo de uma forma diferente.
Fizeste o convite, lançando o meu nome para o ar, acompanhado por um daqueles olhares atrevidos que por vezes exibes, em jeito de interrogação. E eu, confusa, tímida, e com vontade de levar uma marretada na cabeça da minha pessoa do futuro, recusei, no meu jeito envergonhado e tosco. Passaram-me um milhão de razões pela cabeça naquele momento para declinar a tua oferta mas hoje, basta pensar numa outra razão para derrubar todas essas que me levaram a pronunciar um "não" introvertido. Se reviver o passado cem vezes na minha cabeça, alterando aquela simples palavra, pudesse realmente modificar as coisas, provavelmente esta noite dormiria melhor, de consciência tranquila. Em vez disso, é mais um dia de martírio, mais umas horas a remoer sobre aquilo que não pode ser alterado. A matutar sobre o que, uma vez mais, não fui capaz de dizer ou fazer. Típico. Já vem sendo um padrão quando o assunto és tu.
Esta sou eu à espera das fotos da Corrida das Fogueiras de ontem à noite, em Peniche. Pois é, muito tempo depois dos dorsais esgotados, houve um colega da equipa que se lesionou e ofereceu o seu. Eu pus-me logo a jeito e ontem lá fui, muito bem acompanhada por uns outros 18 Mov'et's, correr 15km na maravilhosa localidade de Peniche. O ambiente estava incrível, era só gente na rua a puxar por nós e miúdos com as mãos esticadas para que lhes dessemos um "high five" de passagem. Estava uma noite gelada mas rapidamente aqueci com o movimento e com a adrenalina. É uma corrida muito engraçada porque vai havendo fogueiras ao longo do percurso à beira mar e, no final da corrida, temos entrada gratuita num arraial onde oferecem sardinhas, pão e vinho.
Ao km 6, senti ali uma dor aguda na coxa direita, mas achei que não devia ser nada. Fui correndo, correndo, e a dor a aumentar. Ao km 13 eu já só murmurava "au au au", quase a chorar de dores, mas a verdade é que lá fui até ao final, guiada pela vontade de bater o meu recorde pessoal (e fiz um óptimo tempo: 1h35!). Nas horas de convívio pós prova, eu quase não me mexia, só tiritava de frio, apesar do polar que levara. Quando cheguei a casa, já bem depois das duas da manhã, é que me apercebi da dimensão do problema: para além de me doerem as duas coxas no mesmo sítio, esticar as pernas estava fora de questão. O resultado disto tudo é que passei a noite toda a gemer e às 5 da manhã estava a aviar benurons que nem uma maluca (vou começar a roubar o tramadol todo que encontrar nos meus estágios). Hoje andei o dia todo tipo pinguim, estou pior que o meu avô para me mexer. Cá para mim, isto foi um estiramento muscular. Vamos ver se passa rapidinho, que eu tenho uma Meia Maratona para correr em Outubro e todos os treinos são poucos.
As férias trazem sempre com elas a oportunidade de realizar um dos meus passatempos preferidos: ler. No início deste ano, prometi que ia ler o equivalente a um livro por mês, mas acho que vou duplicar a parada, pois até agora li sete obras, e tenho dois meses inteirinhos praticamente livres para eu fazer o que me passar pela cabeça.
A mais recente leitura que me veio parar às mãos foi "Estranha Forma de Vida", do Carlos Ademar. Já tinha lido "Bairro", da sua autoria, e até me lembro de ter feito uma crítica ao livro aqui pelo blog (deve estar lá para os posts de Fevereiro).
Confesso que gostei mais do primeiro, apesar de serem ambos do mesmo estilo: romance a puxar claramente para o policial. Este último conta a história de Alberto, um rapazito que levava pancada quando era novo e que se iniciou na luta livre para contrariar esta tendência. Quando se começa a aperceber do potencial que tem, envolve-se nos negócios da noite, da droga, dos diamantes vindos de Angola, e forma em seu redor um perigoso gangue que vai destruíndo toda a concorrência que surge. É depois acusado de matar um segurança de uma discoteca da qual fora em tempos sócio mas o seu advogado, um homem singular, parece apto a conseguir derrubar todas as teorias e provas apresentadas contra o seu cliente em tribunal.
Eles falam, falam, falam. Dizem mal e contestam e esforçam-se por derrubar. Mas eu só vejo ex-alunos de arquitectura a ganhar prémios internacionais. E alunos de cinema a serem convidados para realizar curtas na China e a regressarem com películas vencedoras de festivais. E vejo médicos veterinários que tiraram o curso na pública a assumirem que nós saímos muito melhor preparados do que o pessoal que está na Ajuda. E vejo designers da minha universidade a arrecadarem prémios como quem come mais uma refeição. Ah, e a Telma Monteiro a vencer campeonatos da Europa. Não estou minimamente preocupada. Os cães ladram, a caravana passa. E nós, alunos da Lusófona, vamos ser Grandes, disso não tenho dúvida.
Eu adoro o silêncio, sentir a paz que me envolve de cada vez que os meus nervos auditivos não são estimulados. E sou uma pessoa muito calma. Descobri que respiro menos vezes por minuto do que as outras pessoas, e também me parece que o meu coração bate abaixo da média. E gosto de cores, quantas mais melhor, quanto mais exóticas e exuberantes, mais a minha vista se delicia. Para além disso, e mais importante do que tudo o que foi citado até agora, eu sou uma apaixonada pelo mar e por todos os seres vivos que ele alberga, desde os tubarões brancos aos peixes palhaço (e depois de um enorme trauma com uma alforreca aos 8 anos, até já começo a admirar estes animais). É por estas razões e por tantas outras que eu adoro mergulhar. A 20 ou 30 metros de profundidade, sinto-me livre, como tantas vezes não o sinto à superfície. E todos aqueles litros de água por cima da minha cabeça, que deveriam provocar uma tensão avassaladora sobre o meu corpo, transformam-se em plumas, permitindo-me flutuar no vazio, dar piruetas, cambalhotas, nadar ao contrário. Gosto de espreitar cada depressão na rocha, à procura de um novo peixe ou moreia, e de sondar a areia em busca de raias. Gosto de nadar de barriga para cima e ver os cardumes de cavalas a passarem aos cinco metros de profundidade. Por vezes vasculho as anémonas e lá encontro um peixe palhaço que me faz sorrir. O peixe porco é o meu preferido, talvez porque, num dos meus primeiros mergulhos, houve um destemido que me começou a atacar a cabeça, pensando que me faria algum mal com aquelas duas dentolas que ostenta. Já nadei com tartarugas, com atuns, com neros, peixes-cão, peixes-trombeta, um grupo grande de mantas com dois metros cada uma e golfinhos (apesar de com estes últimos não ter sido mergulho com garrafa). Anseio pelo dia em que encontrarei um lobo marinho no meu caminho, nas águas quentes e revigorantes da Madeira. Ou pelo dia em que poderei nadar lado a lado com um tubarão baleia, numa qualquer ilha paradisíaca por onde estes gigantes do mar costumem passar.
Mergulhar limpa-me a alma. Fazer mergulho traz-nos uma sensação de bem-estar indescritível. Só aqueles que praticam esta modalidade é que realmente entendem a importância que tem, e o vício no qual se torna. Mas o prazer depressa acaba, pois há sempre um consumista de ar que chega à reserva da garrafa ao fim de 30 ou 40 minutos, e lá temos todos nós que voltar à superfície, regressar à realidade.
Contava ver-te mas encontrei-te logo ali. Caminhavas na minha direcção e, desprevenido, o meu coração disparou. Fingi não te ter vislumbrado ao longe e virei à esquerda. Mas caminhava devagar, esforçando-me por disfarçar o sorriso imenso que iluminara o meu rosto, sabendo que também virarias naquela esquina. A camisola ousada e o cabelo que me caía nessa manhã de forma perfeita pelos ombros fizeram-me reluzir de confiança. Tinha a tatuagem das costas bem visível, para que a pudesses admirar enquanto eu me deliciava com o ruído dos teus passos atrás de mim, cada vez mais perto. Ao passar ao meu lado, disseste, como sempre, na tua voz autoritária e sensual "Bom dia, Rita". E eu, confiante, respondi-te apenas "Bom dia [...]". E a conversa ficou-se por aí, pois continuaste o teu caminho sem esperar por mim, e eu não tive a coragem (como, de resto, nunca tenho) de iniciar um diálogo mais animado. Mordiscando o lábio, sem saber se havia de ficar alegre ou depressiva por mais uma oportunidade perdida, lá segui atrás de ti, indecisa também sobre se te amo ou se te odeio.
Um dia, algures pelo 11º ano, fomos até à Serra do Marvão plantar árvores e foi engraçado. Houve alguém que fez anos mas já não me lembro de quem foi. E eu na altura era feia a valer. A terceira foto é só para o pessoal da faculdade que ainda lê o blog. A ver se descobrem quem é a figurinha do meio.