Ainda estou a processar todas as emoções que vivi hoje, mas creio que apenas com uma boa noite de sono conseguirei arrumar as coisas nas suas devidas prateleiras. Estive a fazer noite no hospital, e apesar de ter estado deitada durante 4h30, não preguei olho um minuto que fosse, não sei se por estar num ambiente estranho, se por receio dos 17km de corrida que me esperavam em Sintra na manhã seguinte. O que é certo é que às oito em ponto estava equipada e fresca que nem uma alface como não há memória depois de uma longa noite. O grupinho de Mov'ets reuniu na vila de Sintra para a Corrida do Fim da Europa e toda a gente parecia ter uma desculpa para ir com calma e aproveitar para respirar fundo nas subidas mais acentuadas do percurso. No entanto, este revelou-se menos íngreme do que aquilo que inicialmente prevíramos e os 17km fizeram-se com ligeireza, mesmo depois de uma noite em branco. Com o apoio de alguns membros do grupo ao início e do efeito da gravidade no final (os últimos 6km eram sempre a descer), consegui fazer um tempo bom para aquilo com que ia a contar. Cheguei à meta com um sorriso no rosto, com a sensação de que nunca me tinha divertido tanto numa corrida como naquela, questionando-me até se não seria capaz de treinar o suficiente para fazer uma maratona em Outubro deste ano.
Vinte segundos depois de cruzar a meta, ouço alguém a chamar a ambulância que estava estacionada mesmo ali. Apontam para a colina e o veículo parte a toda a velocidade em marcha de urgência, parando cerca de cem metros mais adiante. À minha volta fala-se de um homem caído. "A coisa está má, não respira". Entro na tenda para buscar os mantimentos a que tenho direito, mantendo-me atenta à situação. Vejo alguém caído e um homem por cima, a fazer manobras de reanimação. Não daquelas que vemos nos filmes e nas séries, que quase parecem festinhas comparadas com a violência daquela cena, digna de quebrar algumas costelas. Recolho a água e uma merenda e encontro uma amiga que também fez a prova e que está na companhia da irmã. Estamos a trinta metros do local de acção e as manobras não param. Elas comentam que na São Silvestre também viram uma pessoa em paragem cardiorespiratória, e o pessoal do meu grupo afirma, momentos mais tarde, que esse não se safou. Afasto-me do local. Não consigo ficar a olhar. Parece que estou a ver a morte por cima do corpo, a sugar-lhe o resto de vida que este ainda possui. Comentamos que podíamos ser nós, que estas coisas nunca se adivinham. Todos se mostram um pouco assustados.
Mas temos um aniversário surpresa para uma das veterinárias do grupo e afastamos essa ideia da cabeça. Pelo menos até ao instante em que a ambulância passa por nós, cerca de meia hora depois, sem estar em marcha de urgência. Toda a gente adivinha o que tal quer dizer mas ninguém comenta. A aniversariante é supreendida por um grupo grande que lhe canta os parabéns. É uma mistura de sentimentos, parece que veio tudo ao mesmo tempo, num turbilhão confuso. Só quero ir para casa. E agora que estou em casa e a pensar no assunto vezes e vezes sem conta, o que quero agora é dormir.
Não foi amor à primeira vista mas chamou-me a atenção. Estava sozinho, isolado do grupo. Passei por ele e lancei-lhe um olhar curioso. Achei que não fazia o meu género. Demasiado "bad boy" para mim. Dei uma volta e acabei por regressar ao mesmo sítio, sentindo uma atracção inexplicável. Irreverente, atrevido, sexy e mal comportado. Toquei-lhe e sorri. Depois passei por ele uma terceira vez, decidida a caçá-lo. Levei-o pela mão, até à frente de um espelho e experimentei-o. Não havia nada a fazer. Estava apaixonada.
Ela tomou a iniciativa de lhe ligar. Explicou-lhe que não podia mais continuar a viver assim, que precisava dele, que não podiam continuar a fingir que estava tudo bem. Ele disse-lhe que não podia, que estavam a quebrar todas as regras. A sua voz grave parecia séria do outro lado da linha, ríspida até, como se tivesse ficado irritado dela lhe ligar inesperadamente. Ela referiu que as regras eram feitas para serem quebradas e acrescentou uma risada no final, como que para aliviar a tensão que se havia criado. Ele suspirou mas nada disse. Ela pediu para se encontrarem pessoalmente, não podiam resolver a situação por telefone. Para além disso, queria vê-lo, tocá-lo, abraçá-lo. Oito da noite, junto ao relógio mesmo em frente ao cruzamento. Ela colocou o seu melhor vestido e um sorriso sincero nos lábios. Chegou cedo, com a ansiedade. Andou para a frente e para trás, consultou o relógio, sentou-se num banco. Ergueu-se de novo, preocupada. Dez minutos de atraso. Um relâmpago atravessou os céus e a chuva começou a cair formando cortinas de água que bailavam ao sabor do vento. Resguardou-se debaixo da estação de autocarros. Mordiscou o lábio, consultou o telemóvel, olhou para um lado e para o outro, espreitando através dos carros e das árvores, dos guarda-chuvas apressados que passavam. Meia hora de atraso. Um carro parou em frente à paragem, o seu coração palpitou. Tentou espreitar através dos vidros embaciados, sem efeito. Uma mulher saiu de dentro do veículo, que se pôs de novo em andamento. Ela suspirou, cansada de esperar. Lágrimas subiram-lhe aos olhos, desiludida. Conseguiu reprimi-las, só não soube determinar por quanto mais tempo. Olhou uma última vez para o ecrã negro do seu telemóvel, sem esperança, e lançou um olhar preocupado ao céu, pois cada vez chovia mais. Ouviu alguém gritar o seu nome, e a princípio não entendeu de onde vinha. Era ele. Vinha a correr, estava encharcado. Ela saiu do seu abrigo e foi ter com ele, completamente esquecida da tempestade. Aterrar nos seus braços foi como uma lufada de oxigénio depois de estar numa casa em chamas. Ele fixou-a bem nos olhos e declarou que por ela quebrava todas as regras, todos os dias, para o resto da vida. Afastou-lhe o cabelo molhado da cara e encostou os lábios escorregadios aos dela, em jeito de compromisso eterno.
Queria tanto que aqui estivesses. A cama parece vazia e fria sem te ter a meu lado. As cores do quarto esbatem-se, e como que se transformam em tons de cinzento, sem graça, sem vida. A planta que descansava sobre a secretária morreu, não sei se de sede, se de saudade. A claridade dos dias soalheiros já não atravessa os vidros, deixando esta pequena divisão escura e sufocante. O relógio de parede deixou de contar os minutos, e o hoje é semelhante ao ontem, e igual ao amanhã. Nem o calor abrasador que se faz sentir lá fora penetra as paredes deste cubículo, quanto mais aquece o gelado coração que deixaste para trás. Nenhuma brisa marítima vem tirar este cheiro teu que impregna as roupas da cama, as almofadas do sofá, a roupa do armário. Os livros deixaram de ser aventuras intermináveis, romances apertados, policiais viciantes, e transformaram-se em palavras secas, desleixadas, que deixaram de fazer nexo. Não há nascer do sol, nem luar, nem adormecer ou acordar. Levaste tudo.
Calor para mim é sinónimo de tensão baixa, desidratação e sol ardente, pelo que não sou propriamente fã, a menos que esteja à beira de uma piscina ou na praia. Vamos então ao top 5 das coisas que eu gosto de fazer no calor!
1. Piscinar. Na minha casinha de verão, tenho a praia a três minutos de distância. Ainda assim, na grande maioria das vezes prefiro ficar pela piscina pequena que cá temos em casa. Menos confusão, posso ouvir a minha música à vontade, ir buscar comida ou refrescos quando me apetecer e passar horas estendida num colchão a tostar e/ou a ler um bom livro.
2. Comer gelados. Gosto mais deles do que chocolates, se bem que se juntarmos as duas coisas...nhami! Magnum White está entre os meus preferidos.
3. Aproveitar a noite. Noite quente de verão é óptima para passeios tardios ou para sentar na varanda a ler pela madrugada fora. Sair para beber uns copos também me parece boa ideia.
4. Ir ao cinema. Quem nunca se sentiu aliviado por sair da rua com 40ºC à sombra e entrar num cinema com ar condicionado? Nem apetece sair no final do filme!
5. Mergulhar. Está muito quente fora de água? Não faz mal! Vamos descer até aos 25 metros abaixo da superfície e depois logo me dizem se precisam de fato de mergulho :P
Simplificando ao máximo a minha opinião sobre os candidatos que vão a votos para o cargo de Presidente da República neste Domingo:
Marcelo Rebelo de Sousa: o homem é esperto, sabe como fazer campanha com pequenos detalhes. É claro que como esteve uma década a fazer campanha na TVI, não precisa de se mexer muito mais para vencer. É tipo um camaleão, que vai moldando a sua opinião aquilo que lhe é pedido. Acho difícil alguém que é profundamente católico e que vai à missa todos os domingos dizer que teria aprovado a lei da coadopção por casais do mesmo sexo. Mas lá que disse, não se pode negar.
Sapaio da Nóvoa: uma pessoa coerente e séria, que fez campanha sem entrar em joguinhos.
Maria de Belém: é a cara chapada do socialismo. "Isto é tudo muito bonito, vamos partilhar as riquezas por todos, mas esperem lá que eu tenho de ter mais regalias do que vocês.". Ah, e a conversa do "mulheres ao poder" também já cansa.
Marisa Matias: epá aquele comentário/piada sobre o Sporting caiu muito mal...
Edgar Silva: ser do PCP já chega para manter a distância. Mas embora lá gastar uma fortuna na campanha que isto aqui na área do comunismo também é igualdade para todos mas é lá no fundo do poço e os governantes que vivam à grande.
Vitorino Silva aka Tino de Rans: é muito engraçado. Mas vamos ser sérios? Estamos a falar de eleições presidenciais e espetar um pau na areia durante a campanha era qualquer coisa que eu não esperava ver.
Os outros: o senhor da corrupção corrupção corrupção, um velhinho que devia estar em casa a tomar chá com o Mário Soares, um tipo que é rico e outro que não faço a mínima ideia mas é parecido com um professor que tive.
Seja qual for a vossa intenção de voto, toca a ir às urnas no próximo domingo!
As relações são como as casas. É possível destruir uma ou outra parede sem abalar a estrutura, sem fazer grande mossa. Mas quando se atinge um pilar principal, quando se derruba um alicerce importante, a casa vem abaixo. Já faltou mais. Muito mais.
Ontem vi na rua um miúdo dos seus cinco ou seis anos, acompanhado pelos avós. Com o avô pela esquerda e a avó pela direita, tagarelava como gente grande enquanto os avós, deliciados, sorriam. Não pude deixar de sorrir também, e de abrandar um pouco o passo para apreciar o momento. Também eu fui em tempos aquela criança feliz, na companhia dos meus segundos pais, naquela mesma rua, onde tantas vezes ia à mercearia para que a minha avó fizesse as compras do dia.
Recordo-me bem das terças-feiras. Era o dia em que a empregada não vinha, e quem ficava connosco depois da escola eram os avós. Ver filmes era o meu passatempo preferido, e o meu avô tinha lá uns quantos com os quais eu me entretinha. O filme que recordo com mais carinho era o "The Forgotten Toys" (acabei de estar meia hora no google à procura do título), que falava da história de um urso de peluche e de uma boneca que eram deitados no lixo depois das crianças que os tinham receberem brinquedos novos pelo Natal. Esse filme dava-me sempre vontade de chorar a certa altura! Quando fiz dez anos, achei que já era crescida o suficiente para ficar em casa sozinha durante umas horas. Recebi um par de chaves e as terças-feiras deixaram de ser o que eram. Se eu soubesse o que sei hoje, tinha prolongado o máximo possível essas rotinas...
A tarde de quarta-feira era o único período da semana em que tínhamos dispensa da escola. De vez em quando ligava aos meus avós para irmos comer um gelado e eles nunca recusavam. Lembro-me que a minha avó gostava muito do Super Maxi, enquanto eu ia mais para o Perna de Pau. O meu avô comprava o jornal na tabacaria ao lado do café e lá nos divertíamos à nossa maneira.
Olhei para aquele miúdo e desejei ter a idade dele outra vez. Um sorriso no rosto. A avó por uma mão, o avô pela outra.