Nunca esperei ver este meu país tornar-se campeão da Europa. Ou será que estive vinte e dois anos à espera? Bom, a verdade é que acabo de chegar do Marquês e ainda não caí em mim. Campeões da Europa? O meu Portugalinho? Vencemos a França que tanto nos criticou ao longo deste europeu e deixamos a cidade da luz às escuras? Uau! Volto a repetir, não contava viver para contar um dia esta história às gerações seguintes.
O nosso capitão mostrou daquilo que somos feitos pois mesmo lesionado insistiu em continuar a jogar até não lhe ser mais possível. Comandante Ronaldo, esta foi por ti! Um país inteiro chorou contigo quando te lesionaste e um país inteiro voltou a chorar (desta vez de alegria) contigo quando levantaste bem alto aquela taça.
Patrício, que dizer? És dos melhores guarda-redes do mundo, será que ainda há alguém que duvide disso? Obrigada por tantas defesas espectaculares. Sem ti nunca teríamos conseguido.
Éder, se eu tivesse gravado a conversa que tive há umas semanas atrás em que dizia que íamos ganhar a final com um golo teu, talvez aí alguém acreditasse. Hoje mereces jantar duas vezes!
Nani, Quaresma, Adrien, William, João Mário, Moutinho, Renato, Pepe, Raphael, Fontes e todos os outros convocados são a prova de que o sonho comanda a vida, de que a humildade vence a arrogância e de que vale a pena lutar até ao fim. Obrigada Selecção, obrigada por um dia que vai ficar para sempre encrustado na minha memória.
O amor devia ser como a fruta. Todos procuramos aquele pêssego consistente e macio, a banana amarelinha no ponto, as ameixas brilhantes e sem defeitos, as maçãs grandes e suculentas. Andamos constantemente em busca da perfeição para depois nos apercebermos de que aquela pêra que tinha tão bom aspecto por fora está farinhenta, que a manga que cheirava tão bem tem bicho lá dentro e que o melão imponente que trouxemos para casa não sabe a nada.
O amor devia ser como a fruta. Devia ser biológico. Ser como os kiwis que têm tamanho de uva mas são tão frescos e saborosos, assemelhar-se aos morangos, nem todos com pés perfeitos, por vezes com aspecto duvidoso, mas que depois de lavados sabem melhor que um gelado no pico do Verão.
Sim, o amor devia ser como a fruta acabada de apanhar. Sem corantes, sem conservantes, sem máscaras para esconder as imperfeições. Só assim sabe melhor.
Tenho andado ausente porque comecei esta semana a estagiar no melhor centro de oncologia veterinária do país e, apesar de estar a a-d-o-r-a-r, tem sido extremamente cansativo. São quarenta horas por semana (que acabam sempre por se transformar em quarenta e cinco) sempre em pé, sempre a andar de um lado para o outro, e portanto chego a casa e já não consigo fazer mais nada.
Muitos dos animais que ali chegam estão já no fim da linha, pelo que é um sítio onde a morte está muito presente. Ainda assim, os médicos e enfermeiros que lá trabalham são pessoas alegres e divertidas, muito profissionais, e o hospital tem óptimas condições. Levei dois ou três dias a adaptar-me à dinâmica da coisa mas agora já me sinto inteiramente dentro do espírito. Vão ser dez semanas a dar o meu melhor e a aprender o máximo que conseguir mas pelo meio ainda vou duas semanas para a minha ilha maravilhosa e outra no final de Agosto para o Mar do Norte, fazer um cruzeiro com a família. Passar o verão sem fazer nada não é mesmo para mim!
Aquele consultório ao minuto 1:30 não me é nada nada estranho! Aliás, já ali dei/assisti algumas consultas! Não havia um consultório de medicina humana a sério para gravarem a cena? Estou a ver que vou ter de ir ao cinema ver o filme só porque alguns minutos do mesmo foram filmados no hospital onde andei a estagiar durante quase dois anos!
Não me vejo a fazer muito mais coisas para além da medicina veterinária (sendo que isto já inclui a investigação, que ainda não pus de parte). Penso que escolhi acertadamente quando vim para este curso mas se mesmo assim tivesse de escolher outras coisas, seriam estas:
1. Instrutora de mergulho. É o que vou fazer se a veterinária não der. Sem dúvida alguma. Depois podem mandar postais para Cancún, para as ilhas paradisíacas da Tailândia ou para a Indonésia.
2. Escritora. Ultimamente tenho andado muito em baixo em termos de inspiração para escrever mas um dia gostava de publicar um livro com os meus textos.
3. Guia turística. Sabem aquela sexta opção que se preenche aquando da candidatura ao ensino superior? Após colocar todas as cinco faculdades de veterinária, optei por deixar em sexto lugar um curso de turismo só mesmo porque não me importava nada de ser paga para viajar por esse mundo fora.
Perguntam-me com frequência se não tenho medo de andar pelo mundo fora sozinha e eu encolho os ombros e respondo que nem por isso. É óbvio que há riscos, ainda mais quando se é mulher. No entanto, nunca me senti ameaçada, por mais situações estranhas que já possa ter vivido.
Sou menina para andar de t-shirt e chinelos. Roupas caras e acessórios só ocupam a mala e chamam atenções indesejadas. A câmara fotográfica costuma ir ao pescoço mas vai para dentro da mochila em zonas isoladas, principalmente à noite.
Mesmo chegando de madrugada a qualquer sítio (aconteceu tanta vez), tenho sempre à mão a morada onde pretendo chegar e o que tenho de fazer para o conseguir. O planeamento é, na minha opinião, uma ferramenta essencial para conservarmos a nossa integridade. É claro que há quem goste mais de ir à deriva, de esticar o polegar à beira de uma estrada e ver o que aparece, de se juntar a um grupo e ir na onda, de não fazer a mínima ideia de onde vai dormir nesse dia quando a lua aparecer. Mas control freak como sou, essas coisas não são para mim.
O resto vocês já sabem. Evitar becos e zonas mais perigosas, não aceitar bebidas de estranhos, não aceitar boleias de qualquer um, dar à família ou a amigos próximos um roteiro da nossa viagem, fazer questão de comunicar todos os dias nem que seja para dizer que estamos vivos (e quando tal não for possível porque vamos levar três dias a atravessar o deserto, avisar com antecedência!) e algum senso comum (nada de alugar uma mota num qualquer país asiático onde se está sozinho sem nunca ter conduzido uma na vida como eu fiz, hum?).
Isto das mulheres viajarem sozinhas tem muitas vantagens, nomeadamente o facto de se ficar logo a conhecer meio mundo porque toda a gente nos aborda. Conheci imensa gente simpática por aí, é só partir à aventura que se travam logo novas amizades.
Em Amarapura, onde um monge novinho fez questão de me acompanhar durante todo o passeio e ainda cravou um guarda chuva a alguém para nos proteger do sol.