Estou a planear levar dois ou três livros comigo para os States para me entreter nas viagens de avião e de autocarro que me aguardam mas não tenho assim nenhuma obra em mente. Queria algo que não fosse do tamanho de uma enciclopédia mas que também não fosse de ler em duas horas. Alguma sugestão?
1. Miúdas de 14 anos a saírem à noite vestidas (e maquilhadas) como se fossem ao salão erótico de Marco de Canaveses (roubei esta última parte à Pipoca Mais Doce).
2. Pessoas que se queixam do estado do país mas nem sequer vão votar.
3. Apanhar um animal da rua e depois descartar numa qualquer associação sobrelotada e endividada, alegando já terem cumprido "o seu papel na sociedade".
4. Colocar fotos diárias nas redes sociais no ginásio ou das refeições hiper saudáveis - oh-meu-deus-engordei-100-gramas.
Soubesse eu que era a última vez que as rugas da minha pele se encaixavam com uma perfeição assustadora nas tuas, não te teria largado a mão. Os teus olhos encovados, fitando os meus já cansados, sorrindo na esperança de um amanhã que não chegou. Uma conversa breve, não mais do que quatro horas - a dona Adelina estava à tua espera para jogar dominó e eu cheia de ciúmes - relembrando os dias passados. Ainda ontem vínhamos de mãos dadas da escola e no entanto dizem-nos que já faz quase um século.
Soubesse eu que era a última vez que te voltavas para mim, com o braço a acenar como podia, sem o outro largar o andarilho, e teria fechado a sete chaves a porta por onde desapareceste. Nós, humanos, acreditamos que tudo é eterno, que somos imortais, que haverá sempre tempo para um último abraço, um último sorriso, uma frase final. Marionetas do tempo, à mercê de um relógio implacável que nunca gasta a pilha. Donos do mundo que na verdade é nosso há quatro segundos.
E o que não trocava eu por mais quatro segundos contigo? Por um sorriso que não se apaga, um olhar que não se esquece, um toque que fica gravado e uma memória eterna.
Bem, estou-me a passar. Faltam duas semanas para embarcar em mais uma aventura que só se vive uma vez na vida. Vão ser quatro meses a viver nos Estados Unidos, sendo que o primeiro será para viajar e conhecer o país e os outros três para estagiar no hospital veterinário da Universidade do Tennessee. Vou estar sozinha nas duas etapas, pelo que estou já um pouco ansiosa.
Pela primeira vez na vida, vou experimentar o couchsurfing, que para quem não sabe, consiste em acolher e/ou ser acolhido em casa de alguém, sendo que essa pessoa normalmente tem um sofá ou uma cama (e com muita sorte, até um quarto) para albergar viajantes de forma completamente gratuita, esperando nada mais em troca do que boas conversas, partilha de histórias de vida e também de conhecimentos (sejam estes linguísticos, artísticos, musicais, informáticos ou o que seja). Até agora tenho tido alguns pedidos rejeitados, em parte devido a já estar a pedir para ficar em casa das pessoas muito em cima da hora e estas já estarem a acolher outros viajantes nessas datas. Mas não tenho desistido e vou lendo dezenas de perfis por dia para ver quais é que se adequam a mim e há sempre alguém que acaba por aceitar o meu pedido, pelo que já tenho guarida para cerca de mais de metade das noites. A partir de metade da viagem também vou alugar um carro para ver os parques nacionais, pelo que conto dormir algumas noites no carro. Para compensar este esforço, já tenho duas noites reservadas no resort The Mirage Hotel, em Las Vegas, para repôr energias (estou mesmo a ver que vou passar os dois dias entre o quarto e a piscina e não vou ver quase nada da cidade).
No dia 6 de Novembro, exactamente um mês após o início desta aventura, chegarei então a Knoxville, no Tennessee, para iniciar um estágio de três meses, que já me disseram ser duro e muito trabalhoso.
Vou passar aniversário, Natal e passagem de ano fora de casa mas tenho a certeza de que vai valer a pena e de que vou fazer amigos e trazer memórias inesquecíveis. Para além disso vou poder vivenciar o Halloween americano, estar presente no dia das Presidenciais, viver um Natal com neve e estar em Times Square às 0h do dia 01 de Janeiro, tudo eventos pelos quais mal posso esperar. America is waiting for me!
Setembro já vai quase no fim e nada de regressos. Nada de rever os colegas e os amigos, nada de conhecer os novos professores, nada de retomar as aulas sempre com aquele medo de que tal ou tal cadeira seja difícil de passar. Nada de livros novos, de canetas acabadas de comprar, de organizar dossiers com separadores, de passar a limpo o horário, de ter uma rotina. Nada daquele misto de sentimentos que o regresso às aulas implica. Tenho saudades de algumas coisas, de outras nem tanto. Das amizades do Liceu Francês, dos horários do Rainha, da macacada da faculdade (e de algumas aulas também). Setembro já vai quase no fim e parece que há algo em falta. Um mês que provavelmente não volta a ter o mesmo significado.
1. Poder "conhecer" pessoas super interessantes, mesmo que vivam do outro lado do mundo.
2.Conversar com quem está longe. Facebook, messenger, skype, tudo serve para comunicar à distância com amigos e família.
3. Ver os jogos do meu Sporting. Bem, dessa parte é o meu maninho que trata porque eu não percebo nada de streamings ou coisa que o valha. Ele lá acede à internet na televisão com um teclado de computador e lá vemos os jogos como se tivéssemos SportTV em casa. PS: que raio de jogo este hoje :(
4. Ver séries atrás de séries. O tempo é cada vez mais escasso para passar longas horas à frente do PC a papar séries mas sempre que posso, actualizo um episódio de aqui e outro de acolá.
5. Ter toda a informação de que preciso sempre à mão. Claro que é preciso ter sempre muito cuidado com o que o sr. Google nos diz mas desde que se procure em sites fidedignos, tudo ok. Desde o preço do champô na mercearia do lado ao último artigo científico publicado sobre a angiogénese em tumores malignos, tudo se pode encontrar no mundo virtual.
O despertador toca às seis da manhã e lá vou eu preparar o pequeno-almoço: ovo estrelado com esparguete. Calço os ténis e saio ainda é noite cerrada. As pessoas normais estão a dormir. Nos primeiros quilómetros só me cruzo com três ou quatro maluquinhos, também a correr. Ao início decido dividir a distância em três partes e concentro-me em terminar aquela em que estou. 10km feitos e corre tudo bem. Aos 13km o sol está de frente e já chateia. As pernas já doem mas há que continuar. O momento de dar meia volta é sempre mais crítico. Aquela pausa de cinco minutos para comer uma barra energética e rehidratar nunca faz bem porque é nessa altura que me apercebo das dores nos joelhos e das bolhas a quererem surgir nos pés. Felizmente fecharam a marginal ao trânsito automóvel e há muito mais espaço para correr. 22 km e começa o "pára arranca" e vejo a vida a andar para trás. Odeio treinos longos. Vou buscar forças aos confins da mente e consigo algum combustível para ir a correr a maior parte do caminho. Há uma prova na linha de Cascais e são às dezenas a passar por mim na recta final. Está quase. Falta-me um quilómetro quando o último participante passa por mim. Vem numa cadeira de rodas, cheio de motivação. "Bora campeão!" digo eu quando ele passa. E se ele consegue correr 10km sem usar as pernas, também eu consigo correr 32km com elas. E chego ao fim. Venha a maratona. Estou pronta.
Um dos nossos pacientes felinos mais amorosos de todo o sempre tem alta depois de ser operado pela terceira vez a um tumor na boca e o dono oferece uma máquina de café e um monte de cápsulas ao hospital. Assim uma pessoa sobrevive muito melhor às noites! Ainda há pessoas maravilhosas neste mundo...
É noite cerrada, o mundo dorme. Mas por entre o denso arvoredo, para lá das montanhas sonolentas, vislumbra-se uma luz pouco segura de si própria, enfrentando solitária a escuridão. Debruçada sobre a secretária, escrevinha freneticamente num papel que vai afagando com a ponta de uma caneta barata. As palavras saem com uma velocidade tal que ela não tem tempo sequer de corrigir os erros que corrompem por vezes as frases melodiosas que se vão encaixando para formar um texto. Sentada numa desconfortável cadeira de palha, sente a dor do mundo nos seus dedos nodosos e o peso da responsabilidade sob a cabeça, onde alguns cabelos brancos começam a querer brotar. Finge o sentimento para descrever a emoção, as mãos trémulas, pensando nele (o muso, sempre o muso). Viaja para países onde nunca esteve mas que não precisa de conhecer para descrever com fervor as suas paisagens, para caracterizar com afinco as suas gentes, para lhes descobrir a saudade daquilo que um dia foram e o medo do que um dia poderão ser. É noite cerrada, o mundo dorme, ela escreve. E quando os primeiros raios de sol surgirem no horizonte, há uma luz que se apaga, por entre o denso arvoredo, para lá das montanhas já cobertas de neve. É o sonho que se extingue, até as estrelas repovoarem de novo os céus (e o muso, sempre o muso).