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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Devolução de Sentimentos

   Amo-te mais do que as palavras traduzem, mais do que o olhar revela, mais do que a alma suporta. Pensei que isto do amor não era coisa para doer mas este aperto no coração não se dissipa e afinal já não quero nada disto de estar apaixonada. Devolvo tudo, pode ser? O aperto no peito, a angústia constante, a profunda tristeza que não passa, as expectativas vãs, as desilusões consecutivas. Só preciso de empacotar tudo num velho caixote, dá-me um minuto. Sabes a morada de cor? Talvez num centro de reciclagem possam aproveitar os meus sentimentos para fazerem deles outros mais bonitos, capazes de alegrar alguém. O melhor mesmo é enviá-los para o lixo, que melancolias destas já não têm salvação. É isso, se ninguém se dignar a levar a minha amargura, vou acorrentá-la a uma árvore no meio da Serra de Sintra e abandoná-la à sua sorte. Amo-te mais do que consigo suportar. Posso pedir o livro de reclamações?

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E Agora na Gulbenkian

   Esta semana comecei o meu estágio no Instituto Gulbenkian de Ciência no ramo da investigação científica - mais especificamente, na área da histopatologia animal. O bichinho da investigação sempre esteve em mim e este último ano de estágios era a última oportunidade para decidir se pretendia prosseguir com o plano inicial de fazer clínica de animais de companhia ou se seguia antes pela vertente dos microscópios, células e publicações.

   Até agora está a ser uma experiência razoável. Gosto de ver as lâminas ao microscópio mas a parte toda logística de ter de fazer mil e uma coisas para depois enviar os resultados aos outros investigadores é uma seca e não me vejo a fazer isto para o resto da vida. Já tenho saudades dos meus cães e gatos e, veja-se bem, até dos donos! Para além disso, todas as lâminas que vemos são de ratos de laboratório que foram propositadamente inculados com doenças, geneticamente alterados, que sofreram transplantes, radiações, inoculações e às vezes muitas destas coisas combinadas e é algo com que não me sinto confortável.

   Tenho um horário extremamente folgado que faz com que só precise de estar no laboratório dois dias e meio por semana. Desta forma tenho tempo para trabalhar na tese e para muitas coisas mais e é um dos pontos fortes deste estágio. Um outro ponto que eu adoro é o facto de poder usar camisolas bonitas e vestidos sem correr o risco de me sujar ou de ficar sem jeito de cada vez que tenho de me baixar/pegar num animal/limpar o chão/etc. O laboratório tem todo um glamour que a clínica não possui (e posso pintar as unhas todas as semanas!).

   Por outro lado sei que nestes quatro meses vou perder um pouco do raciocínio clínico que fui ganhando nos estágios anteriores e também a prática, o que é péssimo. A ideia será, se conseguir avançar a tese no tempo que me resta, dedicar a segunda-feira à prática de pequenos animais numa clínica onde outrora estagiei. A ver vamos como tudo isto vai correr.

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And The Oscar Goes To... #2

3. Hidden Figures. Conta a histórica verídica de três mulheres de cor extremamente inteligentes que trabalham como matemáticas para a NASA nos anos 60 e a sua luta para serem reconhecidas e recompensadas pela sua genialidade.

   -O bom: excelente desempenho das actrizes (Octavia Speeeeeencer!). Cenários e roupas de época bastante bem conseguidos. Há partes realmente cómicas.

   -O mau: o tema não é propriamente fresco mas nos tempos em que vivemos se calhar o melhor mesmo é repetir...

   -Conclusão: bem, este será talvez um 7/10. É um filme que permite viajar para outra época e torcer para que estas mulheres brilhantes tenham sucesso mas não é um filme com uma história absolutamente apaixonante capaz de nos levar à loucura.

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 4. Moonlight. A história de um miúdo que sofre durante toda a infância e adolescência às mãos dos seus colegas de escola que troçam dele e o acusam de ser homossexual. A narrativa acompanha-o até à idade adulta, num mundo de marginalidade, drogas e amor.

   -O bom: gosto da parte "cinematográfica" da coisa (desculpem lá não ser da área de cinema, não sei a palavra certa para isto). O que quero dizer é que gosto da forma como os ângulos são captados, como a câmara gira em torno da acção, como parece que nos estamos a afogar nas cenas gravadas no mar, apesar de todos estes pormenores serem um tanto estranhos ao início.

   -O mau: um filme sem conteúdo, sem uma história que agarre, sem uma narrativa capaz de captar a atenção. Dei por mim a olhar para o relógio de dois em dois minutos, à espera que o filme terminasse. O argumento é fraquíssimo e monotonia é a palavra de ordem aqui.

   -Conclusão: 4/10. E já é dar bastante. Penso que este filme tem tantas nomeações porque fala de tudo o que vai contra as aspirações políticas americanas nos dias que correm - homossexualidade, violência, drogas, etc etc. Como já li em algumas críticas, é um filme que mistura "todos os grades chavões". Mas que no fim não vale grande coisa.

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Tico e Teco

Tico:Hmmmmm.

Teco: Focus. No, don't focus on his perfume. Focus on what he says. 

Tico: Okay, okay. OMG.

Teco: Don't be so tense. Relax. You're shoulder to shoulder with him. Breathe!! You're about to turn blue! Are you crazy?

Tico: Sorry. Breathe in, breathe out. Repeat.

Teco: Listen to what he says, you'll regret it later.

Tico: Why is he so beautiful?

Teco: Why are you looking at him and not at the computer? Oh, this is not going to go well.

Tico: I got distracted. I have to focus.

Teco: You're so tense, let your muscles relax. And breathe! You forgot to do so for the past minute.

Tico: I don't understand a thing of what they're talking about. Maybe if I could just get closer to him...He's gulping, he's nervous too OMG!

Teco: Please...calm yourself down.

Tico: He's coming closeeeeer!

Teco: Because he can't see the datashow from where he is... This is going to be a disaster... Did you forget to breathe again?!

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Violino

   Ele pousou o embrulho em cima da mesa de madeira polida com uma delicadeza extrema e deixou-se cair na poltrona de um verde gasto com um suspiro. O silêncio envolvia a casa, sendo apenas quebrado pelo crepitar ocasional da lareira, que consumia desesperadamente lenha para manter um ambiente acolhedor e afastar o frio violento que fustigava as ruas naquele final de tarde de Janeiro.

   Escolhera o violino com a mesma minúcia com que ela tantas vezes tocara naquele amplo salão e estava seguro de que elegera o presente de aniversário mais adequado. O antigo estava gasto e já se tornava pequeno para as suas mãos desenvolvidas e habilidosas. Como ela crescera para se tornar numa jovem e bonita mulher em tão pouco tempo! O tampo continha marcas da passagem do tempo, riscos de desmazelo, a sua cor começara a mudar de tanto uso. As crinas do arco já não apresentavam a firmeza de antigamente, também elas demonstrando o cansaço de uma vida inteira a servir. A queixeira tornara-se demasiado reduzido para aquilo que ela crescera.

   Ele entrelaçou as mãos, pousadas no colo e perdeu-se nos seus próprios pensamentos, de olhos postos no vazio, que de súbito se igualou ao vazio que sentia em si. Sabia que a mulher não iria aprovar. Imaginava-a mesmo a encher-se de cólera e a alimentar as labaredas da lareira com aquela madeira que ainda cheirava a novo. A tristeza habitava a sua alma desde aquele terrível dia e não mais a deixara. Nem a ele, de facto. Mas nos dias de maior solidão ainda conseguia ouvir as notas do violino da filha a ressoarem pela casa, alegres, carnais, repletas de entusiasmo e dinamismo. E sabia que com o antigo violino ela não conseguia mais tocar (treze anos faria nesse mesmo dia) pelo que, para continuar a escutar as melodias delicadas com que era diariamente contemplado, um novo violino se mostrava imperativo.

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And The Oscar Goes To... #1

   Está aberta a época do "vamos ver quantos filmes de seguida consigo ver sem tirar o rabo do sofá". Com o próximo estágio a começar já na próxima terça-feira, o melhor mesmo é aproveitar estes dias para engolir de seguida todos os nomeados aos Óscares, que é para ficar o assunto arrumado.

   1. La La Land. Talvez o mais publicitado deles todos, não fosse este filme ter quatorze nomeações, tantas quanto o Titanic teve em 1997. Conta a história de uma aspirante a actriz e de um músico de jazz que se apaixonam em Los Angeles. Enquanto se esforçam por perseguir os seus sonhos e se incentivam mutuamente a fazê-lo, descobrem que esses mesmos sonhos ameaçam acabar com o amor que existe entre ambos.

   -O bom: a banda sonora. Sou maluquinha por boas bandas sonoras e esta está mesmo espectacular. "City of Stars" está em replay contínuo desde que acordei até agora e ainda não me fartei. O Ryan Gosling a dançar e a tocar piano. Não deve ter sido fácil, tiro-lhe o chapéu. Ainda assim estou na dúvida se vale um Oscar. O final. Sei que muita gente não gostou mas sinceramente foi das poucas cenas que mexeu comigo. Pelo menos não terminou como milhões de outros filmes semelhantes.

   -O mau: a insonsa da Emma Stone. Aborrecidinha e sem piada, a miúda. Tive dificuldades em sentir qualquer tipo de emoção da parte dela. E apesar do esforço que teve para cantar e dançar, sendo ela atriz, não achei que estivesse nada de especial a fazer nenhuma das duas tarefas. Algumas cenas estão ali para? Não sei. Aquela parte em que eles começam a voar é tipo...argggghh, porquê?!

   -Conclusão: é um bom filme mas não é nada para começar já a arrancar cabelos. 14 nomeações? Um exagero. Ainda só vi dois nomeados mas vou ficar aborrecida se não houver nenhum filme melhor do que este. Melhor actor para o Ryan não, porque o Casey Affleck simplesmente merece muito mais. Melhor actriz para a Emma? Ahahah, please. Que ganhe nas categorias musicais, isso sim! É um 8/10.

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    2. Manchester by the Sea. Um dramalhão muito bem conseguido. Preparem os lenços, mesmo que sejam insensíveis que nem uma pedra. A história de Lee Chandler, um encarregado de manutenção solitário e revoltado, é tocante e repleta de compaixão. Lee deixou a sua terra natal, Manchester by the Sea, depois de um terrível acidente que destruíu a sua família. Vê-se obrigado a regressar e a confrontar todas as suas emoções quando o irmão, que sofria de problemas cardíacos, morre e deixa o filho adolescente ao cuidado de Lee.

   -O bom: os actores. Oscar para o Casey Affleck! Como é possível que este tipo tenha andado escondido na sombra do irmão este tempo todo? Palminhas também para o desempenho da Michelle Williams e do Lucas Hedges. A história. Posso ser suspeita quanto a esta parte, afinal, adoro um bom drama. Há comédia no meio do drama. Para que nem tudo seja desgraça.

   -O mau: não tenho nada de mau a apontar a este filme, apesar de, tal como La La Land, não possuir o efeito "é este sem dúvida alguma, já nem vale a pena ver os outros".

   -Conclusão: é outro 8/10. Drama bastante forte e consistente mas continuo à espera de um filme mais arrebatador para vencer na categoria de Best Picture este ano.

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O Fim da Tempestade

   Esperei semanas por este momento. A ansiedade consumiu horas dos meus dias, apagou tempo fundamental do meu sono, abduziu-me do presente para me transportar para o futuro. Como se adivinhasse a tempestade mais à frente, prevendo já a agressividade das ondas, a força do vento, a agitação de um mar onde há meses e meses não soprava uma brisa. O barco navegava há muito em águas calmas, sem sobressaltos, de uma forma quase suspeita. Preparei-me para o embate durante semanas a fio. Lancei âncora na baía mais recôndita da minha própria ilha, recolhi as velas, cheguei mesmo a preparar o bote salva-vidas. Porque depois de um período de calmaria há sempre uma intempérie à espera. 

   O momento chegou e nem uma onde se levantou. O mar permanece calmo como um lago estagnado, nem uma ponta de emoção, nem um resquício de chuva, nem sequer vestígios de nuvens. O sol brilha lá no alto e é hora de desfazer as amarras, içar as velas e navegar, que há muito resguardo o meu batel à espera de ver a tempestade vencida pelo cansaço.

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52 horas de inferno

   Sabia que a viagem de regresso ia ser penosa. Sem dinheiro para andar a pagar voos, a ideia era sair de Knoxville no sábado de manhã de autocarro rumo a Washington. Aí apanhava um segundo autocarro até Boston, de onde partia o avião rumo a Portugal (mas com escala na Irlanda). Acontece que o primeiro autocarro atrasou quatro horas devido a um "problema mecânico" e lá se foi o plano pelo ralo abaixo. Duas horas e pouco de diferença entre a chegada do primeiro autocarro e a partida do segundo não chegaram para colmatar este atraso e lá fiquei eu apeada em Washington.

   Fui obrigada a marcar um voo de última hora para conseguir estar em Boston a tempo já que não havia autocarros até de madrugada e aí já chegaria demasiado tarde! Pimbas, 185$ de avião (quase metade deste valor foi para enfiar uma mala pesadota no porão) mais quase 45$ de Uber porque o aeroporto ainda ficava a 45 minutos da estação de autocarros e à uma da manhã de um domingo não há transportes que valham.

   Cinco horas a secar no aeroporto de Washington. Voo de uma hora e meia. Oito horas a secar no aeroporto de Boston. Voo de cinco horas. Dez horas a secar no aeroporto de Dublin. Voo de duas horas e meia. Chegada a Lisboa: olá mãe, olá pai, foi tudo muito bom mas agora vou dormir. E lá dormi 16 horas seguidas (nunca tinha dormido mais de 12h). Cheguei viva mas traumatizada com esta viagem. Costuma-se dizer que o barato sai caro...e desta vez foi!

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