Sabes que saio com outros e ainda assim pedes para mandar mensagem quando chegar a casa. Reconheces que estou zangada e triste mas continuas a dar-me boleia, mesmo que tenhas de fazer desvios de 30km para chegares ao teu lar. Lês a amargura nos meus olhos e mesmo assim não deixas de esquecer os teus neles. Constatas que estou fria e distante e ainda assim me ofereces a tua camisola numa noite de vento gelado para eu ir aconchegada para casa. Vês que não respondo às tuas mensagens e continuas a chamar-me princesa. Apercebes-te que não posso e não quero mais ser aquilo que fui para ti e ainda assim continuas a disponibilizar os teus braços sempre que eu quiser para no meio deles me refugiar da dura realidade e esquecer por instantes que nos perdemos um do outro. Amas-me sem o dizer mas não te comprometes. E os dias passam na sombra daquilo que podíamos ter sido, ao lado do que podemos ter e por entre aquilo que poderíamos um dia vir a construir.
No dia em que todos os portugueses foram para a praia, eu também me baldei ao "trabalho". Mas não para ir até à Costa. Estou antes fechada em casa, a terminar o raio da introdução e a finalizar os últimos acertos. Amanhã segue para o orientador e a partir daí vai ser um engraçado jogo de ping pong até a tese estar finalmente pronta para ser entregue. Com sorte (e algum empenho de ambas as partes), ainda vou de férias já despachada.
Como boa alfacinha que sou, a noite de Santo António é passada na rua a dançar ao som de música popular portuguesa, a deambular pelas ruas de Alfama e Graça de cerveja na mão (neste caso foi sangria), a conviver com amigos e a comer (ou cheirar) a bela da sardinha no pão ou da bifana. Este ano não foi excepção e aqui ficam algumas constatações sobre a noite de ontem:
1. Quando conheces um gajo, mesmo que não o aches assim particularmente interessante, verificas logo como fica o teu nome com o apelido dele. Só naquela, não vá o Diabo tecê-las.
2. Para quem só ia passar música portuguesa, ouvi muita estrangeirada por ali.
3. Levaram-me até ao miradouro da Nossa Sra. do Monte e não sei como é que em 23 anos nunca lá tinha ido! Para a semana lá vou eu em busca da foto perfeita ao pôr-do-sol para aquelas bandas, ó se vou!
4. Continua a haver muitas moças de sandálias nos Santos. Tenho pena dos pés delas quando chegam a casa.
5. Se algum dia vires uma maluquinha a ajoelhar-se junto a uma saída de esgoto e a gritar se está alguém preso lá dentro, é provável que seja eu.
6. Se algum dia vires uma maluquinha aos saltos à volta de um poste a gritar "miau, miau, miau", é provável que seja uma amiga minha.
7. Uma noite que acaba com "verdade ou consequência" é sempre uma boa noite.
A Grécia sempre foi um dos meus destinos de sonho. Por ser um país caro e por não ficar propriamente na rota de um circuito europeu, acabou sempre por ser excluído das minhas viagens. Eventualmente acabei por achar que seria um destino para fazer um cruzeiro quando tivesse estabilidade financeira para tal ou então para umas belas férias na companhia do meu futuro marido (cof cof). Mas a vida acaba por ter planos diferentes para nós (ou será que somos nós que temos planos diferentes para ela?) e eis que num impulso decido marcar voo de ida e volta (oh, que pena) para Atenas a fim de dedicar duas semanas a este cantinho paradisíaco da Europa.
Com cerca de 1400 ilhas, das quais apenas 227 são habitadas, o difícil foi escolher. Não só tive que jogar com o meu orçamento reduzido como também rentabilizar ao máximo o tempo disponível e fazer as minhas escolhas em função dos ferries existentes entre as ilhas e os horários dos mesmos.
Depois de muitos rascunhos, ficou definido o itinerário e já tenho todos os hostels marcados! Dois dias em Atenas, um dia em Paros, dois dias em Naxos, três em Santorini, dois em Ios, dois e meio em Mykonos e o último dia será de novo em Atenas mas com planos para ir visitar o Templo de Poseidon, que fica no Cabo Sunião, a 70km da capital.
Atenas vai ser extremamente cultural e Santorini também tem as suas aldeias lindíssimas por descobrir mas nos restantes locais creio que o mote será essencialmente "praia, diversão, dormir, repetir", especialmente em Ios e Mykonos, que são ilhas muito viradas para a noite.
Confesso que as expectativas para esta viagem são altíssimas, especialmente no que toca a curar o meu coração partido e a voltar a encontrar aquela Rita aventureira e destemida que não precisa de homem nenhum para se sentir completa. Por causa desta viagem marcada à última da hora, sou capaz de ter de ficar a viver em casa dos meus pais mais dois anos porque com ela lá se foram as poupanças para a primeira prestação do meu futuro apartamento . É bom que valha a pena! E que comece a contagem decrescente!
Para dentro da mala gasta de conhecer o mundo atirou a saudade de quem não a escolheu a ela, sem sequer se dar ao trabalho de a ajeitar a um canto. Com o mesmo gesto desembaraçado e finalmente livre da gangrena pútrida que durante meses a fio lhe consumiu o sorriso, largou as expectativas vãs, as desilusões seriadas e as amarguras que tantas vezes se interpuseram no seu caminho como muros de betão a obscurecer o sol. Procurou pela melancolia na gaveta das meias, lembrando-se depois que a deixara pendurada nas costas da cadeira. Na bolsa de higiene pessoal colocou a pressão da mãe para casar, a coação do pai para arranjar um emprego, a obsessão das amigas com os filhos, a opressão da sociedade para ser perfeita em todos os sentidos. Arranjou espaço para amizades sem par, para sonhos despedaçados, para vícios passados. Com um novo alento no olhar, escolheu memórias soturnas, pessoas sobrevalorizadas, sentimentos desgastados e rapidamente encheu a mala com tudo aquilo que não mais fazia falta na sua vida. Olhou de relance para o rancor, acumulado nas estantes ao longo de todos aqueles anos e hesitou. Já se habituara a viver com ele. No último instante, encaixou-o entre um frasco de lágrimas e o sabonete da solidão. Era a última chamada para ser feliz.
Correu para o aeroporto com toda aquela bagagem e antes de chegar ao terminal que a levaria ao continente da felicidade, parou no ecoponto para deixar a mala. Afinal de contas, haverá sempre alguém disposto a reaproveitar a desgraça alheia.
É eutanasiado no hospital um Pastor Alemão com 50kg. Depois de o metermos num saco de plástico preto (lamento o grafismo da coisa, mas é mesmo assim), há que carregá-lo até à arca frigorífica.
Enfermeira 1: Onde é que andam os homens quando precisamos deles??
Enfermeira 2: Quais homens, quais quê! Precisamos de homens para quê?
Enfermeira 1, após um suspiro: Queres mesmo que eu te explique?
Escusado será dizer que a meia dúzia de pessoas que estava no internamento a presenciar a cena se desmanchou a rir às gargalhadas. Esta gente faz-me muito bem
Passei a evitá-los sempre que posso. Confundem-me muito esses teus olhos que sorriem com ternura na minha direcção. Fazem-me corar, ao saber que alguém gosta assim de mim. Não te posso guardar rancor quando me observas desse jeito, no silêncio das palavras que nunca chegámos a dizer um ao outro. E guardar-te rancor é o meu único escudo de todas as vezes que me olhas com a alma aberta. E agora, meu anjo, e agora? Não me olhes assim, que colapsas o meu mundo.
Gostei mais de visitar o Porto desta vez do que há dois anos. Não sei se foi porque ia por menos tempo, se foi porque estava a precisar desesperadamente de sair de Lisboa ou simplesmente apreciei mais o período disponível para passear. O tempo estava naquela irritância entre o frio sempre que vinham nuvens e o calor abrasador de cada vez que o sol aparecia mas nem isso estragou o passeio pela zona ribeirinha que me levou até Gaia por duas vezes, primeiro durante a manhã e depois para apreciar um magnífico pôr-do-sol.
Um dos últimos textos do Campeonato de Escrita Criativa. As instruções eram criar um diálogo entre duas personagens.
-Olha, que se foda...
-Avô! Essa palavra não se diz. É feia.
-Aqui entre nós, só não se diz à frente das crianças. E um dia ainda vais aprender que é uma das palavras com mais musicalidade da nossa língua.
-E quando é que a posso dizer sem levar com um chinelo na cabeça?
-Não tenhas pressa de crescer, rapaz. Enquanto chorares porque esfolaste um joelho ao tentar trepar por uma árvore, enquanto te zangares com o teu melhor amigo por passar o jogo todo à mama em frente da baliza, enquanto suspirares porque os trocos que tens no mealheiro não chegam para comprar mais cromos, enquanto detestares as miúdas e achares que um beijo na boca é o gesto mais nojento à face da Terra, enquanto fores indignado para a cama às nove da noite, enquanto ficares entusiasmado com o teu dia de aniversário com uma semana de antecedência, enquanto acreditares no Pai Natal...
-Mas eu já não acredito nisso.
-Mas devias. Quanto mais não seja para prolongares essa tua inocência de criança por mais algum tempo. A vida de adulto tem muito mais chineladas para dar do que o teu pai, por mais palavras feias que possas proferir. Por isso, olha...
Depois de algumas semanas de ausência, eis-me de regresso aqui ao blog! Desde a última vez que escrevi, muita coisa mudou, e a maior parte foi para melhor (e ainda bem).
2016 foi um ano incrível para mim, um dos melhores da minha vida. E 2017 não podia ter começado da melhor forma: em Nova Iorque, a ter uma experiência incrível no meio de outra experiência inesquecível como foi o Tennessee. E depois cheguei a Portugal e tudo começou a descambar devagarinho. O meu estágio no Instituto Gulbenkian não me motivava nada, passava muitos dias em casa porque só tinha de me deslocar a Oeiras dois dias e meio por semana, quanto mais tempo livre tinha, menos fazia, a tese não corria nada bem e a minha vida pessoal transformou-se numa autêntica telenovela. Comecei aos poucos a perder objectivos, a ficar mais triste e a deixar de me importar com o que ia acontecendo. Por outro lado, compensei nos treinos de corrida e comecei a intensificar os mesmos e a multiplicá-los, tanto que bati alguns recordes pessoais numa questão de poucas semanas e agora me vejo a braços com uma lesão na perna, que poderá ser uma fratura de stress (estou à espera de fazer ressonância na próxima semana...). No dia seguinte a terminar a "relação" na qual me fui meter sem pensar bem nas consequências, o meu mundo desabou. Foi a cereja no topo do bolo. Foi a pior semana da minha vida. Não me lembro de ter chorado tanto num dia só como naquela segunda-feira. Sair da cama para passear as cadelas foi muito difícil. Para ir trabalhar no dia seguinte foi ainda mais. Deixei de conseguir escrever aqui no blog. Ainda hoje há momentos complicados. Mas a vida avança e o tempo cura. E entretanto aconteceram muitas coisas boas:
-Arranjei forças para continuar com a tese e neste momento está quase concluída.
-Terminei o estágio no Instituto Gulbenkian.
-Voltei a estagiar no Hospital Veterinário de Berna e vou andar por lá até ao final deste mês. Sinto-me em casa.
-Fui ao Porto para um congresso de patologia animal e apresentei um Poster com o tema da minha tese.
-Fui às Jornadas da Medicina Veterinária na minha Universidade e isso deu-me mais motivação.
-Comecei uma operação "revenge body" e ando a comer melhor e a fazer exercícios em casa e já noto os músculos mais definidos. Para além disso comprei roupa nova, o que não acontecia há alguns anos por causa da minha mania de guardar os cêntimos todos para viajar e correr.
-Decidi usar o dinheiro do prémio de mérito que ganhei em Janeiro para ir duas semanas à Grécia em Julho, em vez de estar a guardar para mais tarde comprar um carro ou uma casa. Estou a precisar de sair daqui e a verdade é que nunca se sabe o dia de amanhã, por isso prefiro gastar o que tenho a viajar pelo mundo fora.
-Conclui a minha participação no Campeonato de Escrita Criativa apesar de ter pensado muitas vezes em desistir. Não fiquei tão bem classificada como no ano passado mas não foi um mau lugar e estou satisfeita com alguns textos que enviei.
Estas últimas semanas foram um fase turbulenta da vida que quero deixar rapidamente para trás. Aos poucos começo a ganhar de novo objectivos e a traçar planos para o futuro. Não sei se devia ter recorrido a ajuda profissional quando a coisa ficou negra mas sei que ainda vou a tempo, se não for capaz de lidar com todas estas emoções sozinha. Der por onde der, e como já dizia o Éder, "vai correr tudo bem, vai correr lindamente". Acima de tudo, voltei a sorrir: