Diz-me: com que idade se transformam os sonhos em eternas frustrações? Com que idade se adiam as ambições e se perpetuam ilusões de que amanhã poderemos fazer aquilo que não fizemos ontem? Com que idade entramos numa bola de sabão dentro da qual não nos mexemos com receio que ela rebente? Com que idade deixamos de lutar pelo que queremos e nos conformamos com o que a vida nos dá? Com que idade passamos a dizer "gostava de ter feito isto e aquilo mas outras coisas surgiram pelo meio"? Com que idade se perde a criança sonhadora que há em nós? Com que idade se começa a encolher os ombros e a dizer "logo se vê"? Com que idade ganhamos o medo de sair fora da nossa zona de conforto para agarrar uma felicidade que é levada pelo vento como um balão num horizonte azul? Com que idade te aconchegas na tua insignificância e te resignas ao teu destino? Com que idade passas a ser uma sombra daquilo que sempre ambicionaste ser e uma lembrança do que sempre almejaste fazer? Com que idade morreste tu por dentro se sequer te aperceberes?
Ela usa na pele os tons dourados do Verão como quem roubou um raio de sol para se maquilhar. Vestidos de princesa e brincos de pérola são tudo o que se permite usar nos dias soalheiros que não acabam nunca. O cabelo usa-o quase sempre solto e selvagem, assim desalinhado e seco pelo sal marítimo, que muitas vezes também prova dos lábios sempre húmidos. Tem uma intensidade no olhar que é difícil de interpretar, um mistério mesmo para os investigadores mais tenazes. Um rasgo de tristeza se adivinha quando baixa a cabeça e desvia o olhar para longe do horizonte, onde o céu abraça o mar num carinho que ela tão bem conhece. Mas logo o sorriso surge, carregado de sonhos e esperanças. Menina morena em terra, sereia mulher no mar, acredita sempre que novas marés trarão mais e melhores motivos para ser feliz sem reticências, e que as ondas do mar apagarão os últimos traços de uma saudade mordaz que teima em não se desvanecer do seu coração, tal como os arabescos ficam junto ao paredão até que a tempestade revolta os consiga derrubar. Caminha descalça por entre as pedras para melhor as sentir pois é da opinião de que tudo deve ser sentido com intensidade. E enquanto não sente os beijos que se farão eternos, enquanto não mergulha nos braços de quem tarda, enquanto não inspira fundo para se encher do perfume que a desperta durante a noite, enquanto não prova da felicidade que sabe estar-lhe reservada, vai sentindo os beijos do sol na pele, as carícias da água salgada no cabelo e a aspereza aconchegante das rochas debaixo dos pés com esperança no olhar e um sorriso no rosto.
Desculpa se trago na carteira uma foto tua. Desculpa se acordo contigo no pensamento e se me deito com a tua imagem em mente. Desculpa se todas as músicas me fazem pensar em ti. Desculpa se as lágrimas que choro à noite são todas por tua causa. Desculpa se tento e não consigo imaginar um futuro sem ti. Desculpa se digo coisas sem pensar. Desculpa se continuo a acreditar que és o homem da minha vida. Desculpa se sou cruel e fria. Desculpa se não sei lidar com os meus sentimentos. Desculpa se te amo.
Não há mundo lá fora sempre que me deito sobre o teu corpo desnudo estendido sobre a minha cama por fazer. Não existe vida para além de todos os segredos que as paredes poderiam contar se falassem. Não há eu nem tu mas antes um nós que dura até à eternidade (leia-se, até ser de madrugada e teres de partir).
Não há sons para além daqueles que os lábios constroem quando se encontram ou quando insistes em calcar deliciosamente com os mesmos todos os centímetros da minha pele ainda a cheirar a gel de banho.
Não há nada para ver que não seja a imensidão marítima do teu olhar e as ondas de prazer que aos teus olhos chegam e partem, varrendo uma praia onde a realização substitui os grãos de areia.
Não há odor que não seja aquele que o teu corpo emana e eu suspiro para que os lençóis sejam impregnados desse cheiro que acalma o pensamento e me faz adormecer tranquila depois de me deixares.
Não há sabor que não seja o dos teus lábios nos meus, dos teus ombros largos, do teu pescoço esguio onde a barba cresce rala ou de qualquer outra parte do teu corpo desenhado à imagem de uma qualquer criatura imperfeitamente perfeita.
E não há sentido nenhum mais estimulado do que o tacto nas nossas noites que viram madrugadas de sonho. Os dedos entrelaçados, a barba que roça no meu pescoço, um beijo húmido que arrepia, os nossos corpos como um só, encaixados com uma assombrosa perfeição e uma despedida onde as palavras são silêncio e os abraços se transformam em promessas de que não será a última vez que o mundo colapsa fora dos escassos centímetros quadrados do meu colchão enquanto tu e eu somos aquilo que sempre estivémos destinados a ser: um do outro.
Falo das duas últimas ilhas em conjunto porque...bem, primeiro porque vou outra vez de féria amanhã, desta vez com a família para as habituais duas semanas na Madeira, e depois porque em Ios nada mais fiz senão praia, piscina, festa e dormir.
Ios é conhecida como a "ilha da festa". Se vais a Ios, só pode ser porque queres passar bons momentos a conviver, com música, bom tempo e +/- álcool, conforme a preferência. Mesmo indo sozinha, diverti-me imenso em Ios. Conheci um grupo de americanos ao qual me juntei no primeiro dia e foi uma grande festa. A música começou na piscina às 15h mas antes disso já havia muita gente a curar a ressaca da noite anterior com mais bebida. Às cinco da tarde também o meu grupinho já emborcava uns belos shots de tequilla, que por sinal se bebiam muito bem, nada daquelas coisas que são quase só álcool etílico. Perto das 19 ou 20h, o DJ australiano, Will Sparks apareceu para dar o ar de sua graça até às 22h. Depois disso ainda fomos todos jantar a um restaurante tipo taberna onde encomendámos uma dúzia de pratos a dividir por todos e pagámos uma ninharia. O segundo dia foi bastante parecido ao primeiro.
Mykonos foi a única ilha que desiludiu. É uma ilha realmente cara e há muito "show off". Restaurantes caríssimos, iates luxuosos, festas loucas que duram até ao nascer do sol, espreguiçadeiras pelas quais pedem 100€ por dia...enfim, talvez uma ilha mais indicada para os novos ricos e o jet set deste mundo fora. A cidade principal é engraçada mas o padrão acaba por ser repetitivo e não traz nada de novo comparando com as outras ilhas gregas. Tem a "little venice", composta por um conjunto de bares e restaurantes que ficam mesmo à beira mar e depois tem os moinhos de Kato Milli, que são um bom local para ver o pôr-do-sol. As praias boas ficam mais a sul, e eram essas que eu queria ver no segundo dia. Marquei um passeio de barco mas o hostel não me avisou que naquele dia era um passeio privado e quando cheguei à marina mandaram-me para trás. Foi nesse dia que conheci umas neozelandesas simpáticas a quem aconteceu o mesmo e acabámos por descobrir duas ou três praias mais agradáveis e alugar um chapéu numa delas, o que acabou por salvar o dia de certa forma.
A praia de Mylopotas, mesmo em frente ao Far Out Beach Club, onde fiquei hospedada em Ios
Esta é capaz de ter sido a melhor foto da festa ahahah
Depois de quase seis meses de avanços e recuos, de muitas dúvidas e incertezas, de vontade de arrancar cabelos e desistir, de dias a fio na biblioteca, de perseverança, suor e lágrimas, eis que chega o dia de entregar a tese. Está assim concluída a penúltima etapa deste longo caminho que foram os últimos seis anos. Agora só falta defender, o que apenas deverá ocorrer lá para o final de Setembro, uma vez que a universidade fecha em Agosto.
Já era para ter entregue ontem, logo após imprimir e encadernar tudo direitinho como manda o regulamento. Mas o atendimento aos alunos está cada vez pior e agora só podemos aparecer na secretaria a uma determinada hora durante o dia, e só durante essa hora. Como já tinha planos para a minha tarde, a entrega ficou para hoje.
Entretanto ontem já tive a melhor celebração possível na companhia de uma pessoa que este ano se tornou numa das pessoas mais importantes da minha vida e que, apesar dos altos e baixos, faz de mim a mulher mais feliz do mundo sempre que estamos juntos.
Santorini esteve à altura das expectativas altíssimas. Toda a gente que visita algumas ilhas da Grécia é consensual na preferência: Santorini. Eu não fui excepção.
É uma ilha lindíssima, especialmente devido à arquitectura única das duas cidades principais, Thira (que se lê Fira) e Oia (que se lê Ia), e das igualmente charmosas aldeias que existem pelo caminho entre as duas. Fiquei hospedada junto à praia de Perissa que é a maior da ilha e tem areia preta, e todos os dias apanhava o autocarro para Thira, e depois para outro qualquer ponto de interesse. Tanto a capital como Oia são obrigatórias ao pôr-do-sol. É aquele clássico da Grécia que ninguém pode perder.
O conselho mais importante que posso dar para quem quer apanhar os melhores lugares - em Oia são nas ruínas do castelo porque se vêem as cores da cidade a mudarem ao mesmo tempo que se observa o sol a desaparecer - é chegar cedo. Tipo, com duas horas e meia a três horas de antecedência. Se o sol se põe às 20h30, estejam a guardar lugar a partir das 18h. Foi o que eu fiz e foi nesse tempo que fiz um amigo coreano com quem depois tive um belo jantar. Thira não é tão concorrida para o pôr-do-sol mas mesmo assim há sítios com muita gente.
Santorini não teria sido a mesma coisa se eu não tivesse feito um maravilhoso passeio de barco que durou quase um dia inteiro. A primeira paragem foi numa ilha pequena onde está o único vulcão activo da região, cuja última erupção se deu em 1950. Levámos com um banho de História e foi muito interessante descobrir os mistérios geológicos deste grupinho de ilhas gregas. Seguiram-se as "Hot Springs", que são como as piscinas de água férrea nos Açores...só que no mar! O veleiro larga a âncora a cerca de 50 metros do local e quem quiser pode mergulhar nas águas límpidas e nadar em direcção à cor acastanhada que sai de uma baía ali perto. É o forte conteúdo em ferro que confere esta cor à água, que por sinal se encontra a uns belos 28ºC. O pior mesmo é ter de regressar ao barco, que ficou parado onde a água tem uma temperatura de 21ºC!!
Em frente à ilha de Thera (porque na verdade, Santorini é o nome que se dá ao conjunto das ilhas que compõem o arquipélago), fica Thirassia, uma ilha mais pequena mas habitada, onde o veleiro parou para que pudéssemos almoçar e apreciar as águas calmíssimas e límpidas. Depois disso navegámos até ao porto de Oia e foi nessa mesma cidade que fiquei para o pôr-do-sol.
O último dia foi passado na sua quase totalidade em Amoudi Bay, uma baía amorosa com barquinhos de pesca e três ou quatro restaurantes mesmo sobre a água. Caminhando uns duzentos ou trezentos metros, existe um local que tem uma entrada para o mar razoável e é possível nadar até um rochedo que fica a uns 20-30 metros e de onde muita gente faz o chamado "Cliff Jumping". A altura é de cerca de 4-5 metros mas acreditem, eu saltei uma vez e lá de cima parece muito mais!
Foi deste ponto que apreciei o pôr-do-sol sobre a cidade de Thira
O incontornável pôr-do-sol em Oia
Enquanto esperava pela hora mágica com o meu amigo coreano
Só mais uma
Gravado para sempre na memória! E a lua cheia e enorme que surgiu depois disto???!
Naxos foi sem dúvida a grande surpresa. Uma ilha pouco conhecida, pouco divulgada, pela qual passei talvez pela obra do acaso. Ficava ali junto às outras e os horários dos ferrys eram apetecíveis. Naxos é enorme mas só a cidade principal já vale a pena a visita. É a típica cidade das ilhas gregas: ruas apertadas, branquinhas, cheias de lojas e restaurantes, mas foi construída sobre um monte e tem um castelo muito engraçado no topo.
Tem umas aldeias típicas muito engraçadas que vale a pena visitar, bem como boas praias com pouca gente. Foi em Naxos que aproveitei para fazer dois mergulhos, que na verdade acabaram por não se revelar nada de especial (pequenos desencantos de quem pratica mergulho na ilha mais bonita do mundo, a da Madeira).
Mas o que mais caracteriza Naxos é o Templo de Apolo, do qual pouco mais resta do que uma espécie de rectângulo. Para se chegar ao templo, é preciso atravessar uma língua de terra que tem mar de ambos os lados. É o local mais famoso para assistir ao pôr-do-sol e julgo que as imagens que mostro mais abaixo explicam o motivo. Não consigo dizer por palavras aquilo que senti nos dois finais de tarde que ali passei, de cabelos ao vento, a ver o sol mergulhar no Mediterrâneo e a olhar para a cidade através daquele rectângulo, com a lua a surgir na imagem. Digo-vos que nunca na minha vida vi um sítio e uma hora mais perfeitos para um pedido de casamento e que é ali mesmo, no Templo de Apolo em Naxos, ao pôr-do-sol, que quero ficar noiva do homem da minha vida, se isso algum dia se proporcionar.
Vista do Templo de Apolo para a cidade depois do sol posto
O Templo de Apolo com o sol a desaparecer sobre o mar
O Templo com a cidade lá atrás e a lua a surgir
Uma das praias mais a sul da ilha, de onde saiu o barco de mergulho
Paros foi a ilha menos turística e mais calma por onde passei. Tive muita pena de só lá estar um dia mas realmente em duas semanas é preciso gerir bem o tempo. Fiquei na povoação de Parikia, onde está situado o porto.
O meu hostel era uma coisinha amorosa escondida nas ruas apertadas e branquinhas da cidade. Tinha um pátio muito agradável, excelente para conviver e para tomar o pequeno-almoço que nos era oferecido.
De manhã andei perdida pelas ruas de Parikia, em busca de boas fotografias e de recantos bonitos, fui até às praias mais próximas e depois, como não eram nada de especial, tentei alugar uma mota para conhecer outras partes da ilha. Infelizmente já era hora de almoço e os preços que me propuseram não justificavam estar a alugar uma motocicleta por algumas horas (se bem que hoje me arrependo de não ter dado esse dinheiro e ter estado à vontade). Apanhei então o autocarro até Naoussa, uma cidade piscatória lindíssima, onde almocei e acabei por encontrar a minha colega de quarto Australiana, que me acompanhou numa bela tarde de praia.
Tive muita pena de não conhecer Lefkes, uma aldeia que fica para os lados da montanha e que pelos vistos é muitíssimo típica das ilhas, e também algumas outras praias mais bonitas e desertas.