Tudo aponta para que amanhã começe a última semana de férias dos próximos loooongos meses. Amanhã vou fugir dos problemas e adiar a confrontação com os mesmos para daqui a uns dias. Estocolmo, Helsínquia, Tallinn (ou Talin ou Talim ou o raio que parta esta capital que tem mil formas de se escrever) e São Petersburgo estão no plano. Saímos de Lisboa de madrugada mas só embarcamos no Costa Mediterranea em Estocolmo já mais para meio da tarde. Que seja um cruzeiro tão bom ou ainda melhor do que o do ano passado. Até breve.
Então ontem lá fui à minha entrevista de emprego. Ia mais nervosa por ter que conduzir o carro do meu avô desde a zona da linha de Cascais até à Margem Sul depois de não pegar numa viatura há meses mas tudo correu bem. A senhora que me entrevistou (penso que seja só manager e não veterinária) acabou a falar mais do que eu, que apenas falei brevemente sobre os estágios todos que já tinha feito e fui acenando em jeito afirmativo enquanto ela debitava as condições do emprego. Pelos vistos gostou de mim.
Enquanto não tiver cédula profissional, só posso fazer noites, não posso dar consultas nem passar receitas. Nada que eu já não soubesse. Para além disso, pagam menos até eu ter o meu número da Ordem na mão. Mas é uma oportunidade interessante porque, vendo bem as coisas, eu ainda não terminei oficialmente o curso. Será que vale a pena ficar três meses a olhar para o ar ou passar esses três meses a trabalhar, a juntar um mealheiro e a ganhar experiência valiosa para o currículo?
Fiquei de pensar na proposta. E gostava de aceitar, a sério que gostava. Mas não tenho carro e a paragem de autocarros mais próxima do hospital fica a 35 minutos, sem sequer falar nos horários ridículos. Quando enviei o currículo, uma das minhas amigas de curso estava lá a trabalhar e tinha uma casa de um parente disponível lá perto. No dia seguinte a ter enviado o currículo, ela diz-me que encontrou uma oportunidade melhor perto de casa e que se vai embora.
E eu agora não sei bem como vou conseguir estar a partir de dia 4 de Setembro a cruzar a ponte diariamente sem carrinho próprio, com muito poucas poupanças no banco, mesmo para comprar um em segunda mão, e sem tempo para procurar decentemente boas ofertas de veículos quando amanhã embarco num cruzeiro e só regresso uma semana depois. É que não sei mesmo...
Hoje perdoo-te. Perdoo-te por me teres partido o coração, mesmo depois de saberes o quão frágil ele era. Perdoo-te por me teres feito acreditar num conto de fadas, que nunca passou de uma falácia. Perdoo-te por não teres desistido de mim durante dois anos quando o deverias ter feito. Perdoo-te por todas as lágrimas por ti vertidas (não enchiam já elas um oceano?), por todas as noites em branco, por todos os minutos de desespero em que grito sozinha aos sete ventos como um animal ferido que não entende o que aconteceu. Perdoo-te pelos dias que perdi, tomada pela raiva, pelo desgosto e pela incerteza. Perdoo-te por nunca teres pensado em mim, nos meus sentimentos. E perdoo-te ainda por nem sequer teres pedido desculpa. Faço-o porque hoje, um bocadinho mais do que em todos os outros dias, há em mim uma saudade que não cabe no peito. Mas ainda bem que te perdoo num papel e não numa mensagem ou chamada porque amanhã não sei se consigo voltar a perdoar.
Amanhã tenho a minha primeira entrevista de emprego. Foi a primeira candidatura que realizei porque sabia que eles estavam à procura de um médico veterinário e já lá tinha uma colega que tirou o curso comigo. Tenho quase a certeza de que me vão dar o lugar mas o melhor é não falar mais nisto para não dar azar. Ainda por cima já não sei se tenho assim tanto interesse em ir trabalhar para lá mas essa discussão fica para amanhã.
Hoje venho falar do primeiro salário. Há anos que sonho com o meu primeiro salário. Nunca fui paga por trabalho nenhum, a não ser quando dei umas aulas de Português a um estrangeiro e ainda fiz uns 80 euros, que acabaram por ir todos para as consultas de dermatologia da Oreo.
Não é que vá receber um salário de jeito. Um recém mestre (no meu caso nem isso porque ainda não defendi a tese) em veterinária entra a ganhar pouco mais que o salário mínimo nacional. Mas é um salário e importa começar a pensar o que fazer com ele. Existem várias hipóteses:
-O primeiro é para gastar. Seja em roupa, num jantar de celebração, numa viagem, num telemóvel novo. Acho que quem tem possibilidades para isso e opta por gastar logo o primeiro salário de uma forma um pouco mais consumista faz muito bem mas deve ter atenção para que não se torne um hábito.
-Pagar as contas, dívidas ou ajudar os pais. É a atitude mais louvável e sem dúvida que muitas vezes necessária.
-Guardar para gastar a médio prazo. Seja para comprar uma casa, um carro, investir numa formação continuada ou fazer uma viagem mais longa, há quem poupe durante dois ou três anos e depois gaste tudo num grande sonho.
-Guardar para gastar a longo prazo. Há quem comece a trabalhar e ponha logo dinheiro de parte para usar na reforma. É uma atitude sensata mas eu nunca seria capaz de o fazer. Para mim a reforma está a anos luz de distância e se posso morrer amanhã, não vou andar a poupar para ter um funeral bonito.
Ainda não sei bem o que quero fazer quando receber o meu primeiro ordenado. Sei que se ficar no sítio onde tenho a entrevista vou ter de arranjar um carro em 2a mão, o que vai exigir um esforço financeiro enorme. Sei que quero poupar para fazer uma grande viagem novamente. Ásia ou América do Sul estão nos planos mas não a curto prazo. Sei que preciso de roupa nova para o Inverno porque há anos que não gasto nada em roupas quentes. Talvez compre uns ténis de corrida novos para celebrar. Mas ainda tenho tempo para pensar. Primeiro é preciso arranjar emprego.
E vocês, o que fizeram/farão com o vosso primeiro salário?
O tempo passou sobre aquele nosso recanto escondido. A relva outrora verdejante sobre a qual nos sentáramos secou devido à aspereza de um Verão sem uma única gota de chuva. A praia deserta transformou-se num mar de gente desejosa de apanhar todos os raios de sol daquele domingo até ao último suspiro. O frio de uma manhã de Abril foi substituído pela brisa quente de uma tarde de Agosto. O fracassar das ondas de encontro às rochas virou um marulhar suave como se a espuma abraçasse a areia num gesto carinhoso. As lagartas não mais eram lagartas mas antes borboletas. As estações mudaram aquele lugar. O tempo tudo transforma. E só existem finais para quem não acredita em recomeços.
Hoje era (é) o teu dia. Se soubesses a quantidade de coisas que tinha imaginado para fazermos hoje juntos... Sabes o que te ia oferecer como prenda de aniversário? Uma camisola do Sporting desta época. Personalizada. Com o teu nome e o número 18. E encomendaria uma para mim com o meu nome e o número 19. Os dias em que nascemos. Ou então seriam as duas com o número 15 por ter sido um dia tão especial para nós. Ainda não tinha decidido mas isso agora já não interessa, pois não?
Hoje deixou de ser o teu dia. Não levas camisola do Sporting, nem beijos, nem aquele abraço bom capaz de curar todos os males do mundo, nem passeio de mãos dadas nem nada de nada. O teu dia passou a ser o meu. Corri 26km ainda toda a gente dormia. Vou passar o dia na praia com amigos. À noite vou assistir aos concertos nas Festas do Mar em Cascais e quem sabe tomar um banho de mar à meia noite só porque me apetece. Tem um dia feliz. Porque eu vou ter de certeza.
Ontem fui mostrar Sintra ao amigo coreano que fiz na Grécia. Fomos tarde e a más horas e foi um dia quase para esquecer devido aos transportes públicos terríveis e à multidão de estrangeiros que decidiu visitar a vila e todos os seus encantos naquele dia. Mas isso fica para outro post porque hoje vim só aqui dizer o quanto adoro a Uber, cada vez mais.
Uma hora e meia à espera de um autocarro da Scotturb porque o anterior saiu sete minutos antes da hora de propósito, sabendo que havia pessoas na fila que pretendiam apanhar esse autocarro, e o outro teve um problema qualquer. Ao fim dessa hora e meia de desespero, chamei um Uber. Chegou em cinco minutos.
"Quer que siga o GPS ou tem algum percurso preferencial, Sra. Rita?". "Se quiser tem uma garrafa de água na porta". "A temperatura está boa para si ou quer mais fresco?". "A música está bem assim?". "Foi um prazer Sra. Rita, até uma próxima".
Escusava de acrescentar mais alguma coisa. Cheguei a Sintra em coisa de vinte minutos e paguei menos do que se tivesse ido de taxi. Nunca apanhei nenhum gajo da Uber com o carro sujo, que fosse a fumar, cujo bafo cheirasse intensamente a álcool, que pusesse em perigo a vida dos seus passageiros, que não respeitasse o código da estrada, que fosse carrancudo ou que ficasse maldisposto por a corrida durar menos de dez minutos. Um taxista já. Tantas vezes. Muitas delas dava para fazer um check em vários dos items da lista acima mencionada.
Isto tudo para dizer que a Uber foi uma das melhores invenções de sempre. Não fosse ela ainda eu estava a esta hora sentada na paragem de autocarros do Estoril, à espera de chegar a Sintra às 12h do dia de ontem.
Eu podia muito bem ser a cara de um daqueles vídeos motivacionais no Youtube para fazer exercício ou para correr. O despertador toca às 5h15 da manhã ao domingo. Levanto-me de uma forma automática, com a sensação que já estava à espera que ele tocasse quase desde que me deitei. Tenho as coisas todas preparadas, pelo que não preciso de raciocinar muito. Calço os ténis e sinto de imediato as bolhas a incomodarem. Quando dobro os joelhos, os músculos ainda se ressentem do último treino.
Na cozinha, aqueço as papas de aveia que deixei prontas na noite anterior, barro um croissant ou umas torradas com manteiga de amendoim, acrescento mais alguns frutos secos ao prato, faço café e às vezes termino com uma fruta ou um iogurte. No cinto levo gel energético e na mão uma garrafa de powerade.
Saio por volta das seis da manhã. É noite cerrada e não se vê ninguém pelas ruas. Começo com um ritmo muito lento para acordar, e também porque sei o que ainda me espera. Passo pelo Tamariz e o pessoal da minha idade está a sair da discoteca. Olham, alguns lançam palavras na minha direcção e riem. Mas a música aos meus ouvidos fala mais alto do que eles e eu prossigo com um sorriso no rosto, porque sou feliz a correr e não a beber.
Os primeiros quilómetros são difíceis. Pergunto-me porque é que me voltei a meter nisto, tenho vontade de dar meia volta e regressar à cama. Mas prossigo. Um dois, um dois, respira e concentra na música. A beleza da vila de Cascais a despertar para mais um dia deixa-me inspirada e num instante chego às praias do Guincho. Paro junto a um bebedouro por dois minutos para engolir um gel energético e hidratar. Os primeiros raios de sol surgem sobre as montanhas da serra de Sintra e eu estou maravilhada. Ao longe, o farol do Cabo da Roca transforma o cenário num conto de fadas.
Zona de subida e eu vejo-me obrigada a andar durante alguns metros. Falta-me o fôlego, sempre fui fraquinha de pulmões. Mas logo me faço ao caminho novamente a trote. "Concentra na música, concentra na música" diz a voz dentro de mim. E lá vou. Quinta da Marinha, Quinta da Bicuda, Pampilheira, Rua da Torre e de volta à Casa da Guia, de onde já só faltam cerca de sete quilómetros. Começo a cruzar-me com os primeiros colegas de corrida e sorrio por ser das poucas com coragem para acordar de madrugada. O sol começa a queimar mas continuo a bom ritmo até chegar a casa.
O cronómetro para nos 25.5km. O plano de treino pedia-me 24 mas eu tinha de fazer mais para provar a mim própria de que era capaz de o fazer. Sorrio enquanto respiro fundo várias vezes. Não acredito que duvidei de mim nos dias anteriores, que fiquei ansiosa ao ponto de não dormir, que julguei não ser capaz de o fazer. Tenho o resto do dia para me sentir uma vencedora. Mas no dia seguinte é tempo de começar a pensar no próximo treino longo e a prepará-lo. Porque faltam dois meses para a maratona e o objectivo deste ano já não é apenas terminar mas sim fazê-lo em menos de quatro horas.
Havia uma pequena possibilidade da defesa da minha tese ficar marcada antes da universidade fechar as portas em Agosto. Tinham dez dias para eleger uma qualquer manhã de Setembro em que tanto orientador como arguente estivessem disponíveis. Mas não, os dez dias passaram, Agosto vai a meio e eu ainda não tenho um dia definido para a defesa e sei que não terei certamente nas próximas três semanas, o que me deixa extremamente stressada porque não estou a ver isto a ficar despachado antes do Outono começar.
Se tivesse uma data definida, seria muito mais fácil fazer a apresentação e ir treinando a mesma. Não tendo, vou deixando andar e procrastinando até ao infinito. Para além disso, a fim de arranjar emprego, preciso de ter a cédula profissional, coisa que ainda leva algum tempo até ser emitida após a defesa da tese. E eu sei que prometi a mim mesma não me preocupar com deixar o tempo passar porque é o meu último verão de liberdade e quero aproveitá-lo ao máximo mas passar os dias sem ocupar a cabeça com nada é terrível para mim. Pensar sequer na hipótese de ainda não estar a trabalhar em meados de Outubro é logo coisinha para me impedir de dormir à noite. Com a hipótese de ir trabalhar para fora a ser uma realidade muito plausível, a coisa ainda fica pior porque não é de um dia para o outro que se trata da burocracia toda. Mas é como dizem aqueles diagramas, se tens um problema e não está nas tuas mãos resolvê-lo, relaxa.
Não seria um banco com cofres repletos de barras de ouro até ao tecto, nem um carro topo de gama capaz de atingir os 300 quilómetros por hora em poucos segundos. Não seria uma mansão em Paris, nem tão pouco um iate nas Caraíbas, nem sequer qualquer uma das sete maravilhas do mundo. Não seria um jantar requintado, nem a melhor pizza de sempre. Não seria o animal mais amoroso deste planeta, nem a cama mais confortável, nem a paisagem mais bonita da Terra. Não seria um foguetão para ir à lua, nem sequer uma estrela. Não seria oceano nem terra, poder ou fama, ar nem fogo. Não seria planeta, nem mesmo o sol. Não, se tivesse em minha posse a bússula de Jack Sparrow, aquela que aponta para o que o seu dono mais deseja, ela apontaria na tua direcção como quem aponta para o Norte, sem qualquer tipo de hesitação.