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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Tudo e Nada

   Somos poeira de estrela e nada mais. Somos gota de chuva que se dissolve no meio de tantas outras e se volta a condensar pouco depois de atingir o solo. Somos terra, água e ar. Somos almas solitárias que gastam uma vida inteira a tentar encontrar um propósito. Somos efémeros como um último raio de luz ao pôr-do-sol. Somos tanto e ao mesmo tempo tão pouco. Somos tudo e não somos nada.

 

O meu problema com italianos

   Eu tenho um problema com italianos desde que passei por várias cidades italianas no verão de 2011 no meu interrail - não gosto deles. Aliás, pode parecer um pouco extremista mas eu odeio italianos. Nesse verão achei que eram barulhentos, que se achavam seres superiores. Era tudo deles, ocupavam lugares de outras pessoas, punham-se à vontadinha em público, entre outros. Depois fui conhecendo outros italianos e a minha opinião não mudou, apesar de ter sempre dado o braço a torcer. Até mesmo o italiano que conheci este ano na Grécia se tornou um bocado abusivo quando percebeu que eu não lhe ia dar aquilo que ele queria quando saímos para jantar.

   Agora tenho uma colega de casa e companheira de internato italiana e mais uma vez dei-lhe a oportunidade de mostrar que afinal os italianos não eram todos iguais. E a miúda é simpática, até me desenrascou num dia em que saí meia hora mais cedo do trabalho para ir correr e vieram à minha procura porque havia uma urgência e eles estavam todos ocupados. Tem bom gosto musical, já nos deu a provar o azeite que a mãe faz em casa (é de chorar por mais senhores, de chorar por mais!) e é divertida. Mas depois há aquela faceta italiana que me enerva imenso - faz um barulho dos diabos quando é a vez dela de fazer noite, impedindo-me a mim e à outra colega de termos noites descansadas, ou então fá-lo durante o dia quando estamos nós a descansar das noites. E é escusado falarmos com ela porque pede desculpa e volta a repetir. Fazer o mesmo também não dá resultado porque aparentemente, dorme que nem uma pedra. Outro problema é que deixa sempre tudo sujo. E isto para quem partilha espaços comuns como cozinha ou cada de banho, não é nada simpático. Limpar não é com ela.

   A primeira impressão que tivemos dela foi terrível. Logo no primeiro dia em que chegou, começou a desaparecer-me comida. Primeiro um ovo, depois um kiwi, a caixa de cereais aberta e fora do sítio... E quando ela finalmente foi às compras passados uns dias, puff, a comida deixou de desaparecer. Depois reparámos que ela à nossa frente só comia frutas e vegetais em quantidades minúsculas e tinha latas de conserva escondidas no quarto. Coisas de italiana ou apenas de uma pessoa com distúrbios alimentares não sei, mas que foi estranho, foi. 

   Agora as coisas estão melhores. Já comemos muitas vezes juntas, ela lá vai limpando de vez em quando e quanto ao barulho não há muito a fazer. Mas os italianos realmente têm qualquer coisa que me faz perder a paciência...

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Villages du Lubéron

   Dos três dias que estive em viagem, visitei aldeias da região do Lubéron em todos eles. Dizem que nesta região ficam as aldeias mais bonitas de França e eu, mesmo não conhecendo quase nenhumas, já acredito. Para mim, Gordes é a aldeia mais bonita de todas. Depois também gostei muito de Roussillon, Bonnieux e L'isle-sur-la-Sorgue.

   O facto de ter ido em época baixa fez com que encontrasse estas aldeias completamente vazias e com muita coisa fechada, incluindo restaurantes, lojas de lembranças, galerias de arte e até mesmo hotéis. Se por um lado pude passear sem ter de fugir às multidões e tirar boas fotografias sem aparecer uma dúzia de japoneses nas fotos, por outro lado foi um pouco deprimente andar pelas ruas e não encontrar ninguém ou querer espreitar as lojinhas e não poder entrar.

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 Roussillon foi a primeira aldeia que visitei, onde pude também fazer uma espécie de trail de pouco mais de 1km chamado "Sentier des Ocres" (em baixo).

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 Seguiu-se Gordes, que é considerada a aldeia mais bela deste país. Tem um miradouro não muito longe que realmente pode confirmar.

   Não longe de Gordes fica o Mosteiro de Sénanque, conhecido pelos seus campos de lavanda que são trabalhados pelos monges que habitam neste mosteiro. Infelizmente nesta altura do ano não havia lavanda e o cenário era um pouco triste.

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Fontaine de Vaucluse, onde se encontra a nascente do rio Vaucluse

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 L'isle sur la Sorgue

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 Algures na aldeia de Bonnieux

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 Passeando pelas ruas de Lourmarin

Não Te Sinto em Nada

   Percorro em silêncio os caminhos que escolho sem saber. Abafo o som dos meus passos na esperança de te sentir aqui. Mas tudo o que consigo absorver se traduz apenas num imenso vazio.

   Paro para respirar e apreciar a vista. As cores do Outono vestem (ou despem?) o arvoredo que acompanha o rio no seu percurso sonolento e tortuoso. O reflexo da ponte nas águas estagnadas transmite um efeito encantador à paisagem.

   Suspiro ao imaginar os teus pés sobre a terra que os meus agora pisam e mordisco o lábio ao idealizar os teus olhos a varrerem a paisagem que, solitária, admiro.

   Tento sentir-te no calor aconchegante do sol que vai espreitando por entre nuvens, no vento que me afasta o cabelo da cara, no silêncio refrescante que me preenche a audição.

   Nada. Não te sinto em nada, em sensação nenhuma, em paisagem qualquer. Cada passo que dou é mais um na direcção contrária daquela para onde te diriges. Seremos nós realmente apenas duas linhas de caminho de ferro que se cruzam uma vez e seguem para sempre os seus caminhos separados? Então porque continuo eu a olhar para os destroços do dia em que os nossos corações chocaram a alta velocidade?

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Diário de uma Avec #4

   Tic Tac. Mais quatro semaninhas e estarei em Nice à espera do avião que me irá levar de regresso à minha amada Lisboa por uns curtos seis dias. Vou chegar no dia 25 de Dezembro pelas 14h. Ai de quem se atreva a pegar sequer nos talheres para dar início ao almoço de Natal antes de eu chegar. 

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Aix en Provence e Avignon

   Terminado o meu passeio de três dias, está na altura de regressar às noites cansativas, aos dias de cirurgia intermináveis e às urgências de medicina interna que não acabam de chegar. Mas antes disso deixo aqui um cheirinho dos lugares lindíssimos por onde tive o privilégio de passar nestes últimos dias. Hoje irei falar das cidades Aix en Provence e Avignon e num outro post irei abordar todas as aldeias do Lubéron que visitei.

   Aix en Provence é considerada uma cidade "gémea" de Coimbra, não me perguntem porquê. É uma cidade com uma zona antiga engraçada, cheia de lojas que vão alternando entre o pequeno comércio e as grandes superfícies comerciais, com muitas ruas reservadas aos peões. A avenida mais conhecida é a Cours Mirabeau, que nesta altura já albergava um pequeno mercado de Natal, constituído por uma multitude de barraquinhas de madeira ao longo da avenida e algumas atracções para as crianças. É uma cidade que se visita com muita calma num dia, e que eu fiz em versão acelerada numa manhã.

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Cours Mirabeau

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Mercado de Natal

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 Pormenor de uma fachada

   Avignon, Avignon...por onde começar a não ser por oh-meu-deus-que-cidade-tão-lindaaaa! Avignon é o sonho de qualquer pessoa que tenha fantasias com os tempos medievais. É chamada a "cidade dos Papas" porque durante mais de um século os Papas estiveram instalados nesta vila e foi isso que fez com que tivesse um desenvolvimento tão grande. Existem imensas coisas para fazer e visitar, nomeadamente o Palais des Papes, o Pont d'Avignon, a zona histórica da cidade, as próprias muralhas e algumas ruas mais comerciais.

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Vista do outro lado do rio para o Palais des Papes

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Le Pont D'Avignon

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E agora ao pôr-do-sol!

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A visita à ponte é paga mas vale a pena. Tem um guia auditivo incluído que nos vai contando a história da construção da ponte, da influência que teve no desenvolvilemento da região e da sua degradação ao longo dos anos.

Um mês!

   Hoje já faz um mês que cheguei a Cannes. O tempo passa muito depressa, parece que foi ontem que comecei. 

   E não há forma melhor de comemorar a passagem deste mês do que com três dias de folga seguidos com direito a uma pequena viagem de carro à descoberta de algumas maravilhas do Sul de França. Parto de Cannes amanhã de manhã e conto visitar Aix em Provence, Avignon e algumas aldeias da zona do Lubéron até sexta feira ao final da tarde, altura em que terei de estar de regresso para dar início a um turno da noite. Vai saber bem sair daqui. Viver dentro do hospital tem as suas vantagens mas uma pessoa fica com a impressão de estar 24 horas por dia no trabalho. E Cannes também é uma cidade relativamente pequena, pelo que acabamos por nos sentir um pouco claustrofóbicas aqui. Reportagem fotográfica para sábado (se estiver viva o suficiente!).

Tinder Para a Vida Toda

   As minhas duas colegas de casa usam bastante o Tinder. Uma delas diz que não tem sorte nenhuma no amor, que se apaixona muito facilmente e sempre pelos chamados "bad boys". É capaz de passar horas e horas no Tinder e noutras aplicações semelhantes à procura da sua alma gémea porque aparentemente, todas as amigas dela encontraram aquela pessoa especial na internet. A outra não sei muito bem. Desde que cá está já saiu com vários e parece usar a aplicação mais para passar um bom bocado do que propriamente para encontrar um homem para a vida.

   A rapariga que eu vim substituir encontrou o "amor da vida dela" no Tinder. Ela italiana, ele francês, agora que o internato dela acabou vão viver juntos para o norte da França. 

   Eu, pessoalmente, não gosto muito de usar esse tipo de aplicações. Acho que a maior parte das pessoas as usa para procurar prazer momentâneo e não para encontrar alguém com quem ter uma relação séria. Para além disso, tudo me parece mais superficial e fico muito desconfiada das intenções da outra pessoa. Ainda assim, de vez em quando lá descarrego uma dessas aplicações para cuscar um pouco mas rapidamente a volto a desinstalar, um pouco decepcionada com o que encontro. Gosto mais de encontrar pessoas na vida real, embora não seja tão fácil.

   Talvez seja possível encontrar a alma gémea no Tinder. Talvez haja homens com boas intenções nessas aplicações. Mas será sempre como encontrar uma agulha num palheiro. E eu sou terrível a encontrar agulhas em palheiros.

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Encontrei-me

   Hoje encontrei-me, da mesma forma que se encontra um naufragado que andou meses à deriva num barco de borracha. Encontrei-me no sorriso rasgado pela manhã ao descobrir um dia de sol do outro lado do vidro. Encontrei-me no ronronar da minha pequena ferinha que só apetece apertar. Encontrei-me nas conversas casuais com as minhas novas colegas de casa, nos segredos partilhados, nas confissões sussurradas, nas gargalhadas repartidas. Encontrei-me no ar frio que me bateu na cara assim que saí de casa para correr, duro, áspero, mas tão puro. Encontrei-me na ansiedade que já se acende cá dentro para a prova do próximo domingo, na expectativa do passeio que se avizinha nas folgas da próxima semana, nos planos de viagem que seguramente farei em 2018. Encontrei-me nos sonhos que durante meses estiveram ocultos por nuvens escuras e espessas de uma tristeza que não era minha. Encontrei-me nos colegas de trabalho, nas discussões de casos interessantes, na possibilidade de todos os dias aprender mil e uma coisas novas e maravilhosas com eles. Encontrei-me nas chávenas quentes de café, na barrita de chocolate negro depois do almoço e também nas latas de conserva engolidas em menos de cinco minutos. Encontrei-me nas conversas com o meu novo companheiro de corrida, que deixei para trás em Portugal mas que mesmo assim me fala várias vezes por dia com uma doçura incrível. Encontrei-me na expectativa de poder recomeçar de novo com outro alguém, na possibilidade de deixar para trás uma história repleta de drama e melancolia. Encontrei-me na vontade de me pôr bonita, no sorriso, no olhar brilhante, na felicidade plena de viver cada dia como uma nova descoberta. Encontrei-me, depois de alguns meses perdida num labirinto cuja saída foi extremamente difícil de achar. Encontrei-me novamente e agora dou a mão a mim própria para não mais me perder de quem quero ser.

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Diário de uma Avec #3

   Há dias fui ao E. Leclerc fazer umas compras e decidi fazer um cartão de fidelidade para ter descontos. Quando estendi o cartão de cidadão português, a sra vira-se para mim e diz-me que também é portuguesa. Original de Tomar, está aqui em França há 22 anos. Tenho para mim que cada vez que saio à rua cruzo pelo menos dois ou três portugueses ou descendentes lusos sem o saber. Os franceses desconhecem, mas a França é nossa! 

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