Mougins é uma pequena vila francesa que fica a 10 minutos de carro de Cannes, mais para o interior. Só fui a Mougins porque há uma loja nesta vila que vende produtos portugueses e eu estava meeeesmo com saudades de um pastel de nata e de bacalhau. Acabei por também comprar mais algumas coisinhas, incluíndo um bom vinho do Douro e castanhas para festejar este S. Martinho como deve ser. E ainda bem que fui a Mougins, é uma vila/aldeia linda linda linda! Cada rua é uma autêntica obra de arte, há galerias de pintura e escultura porta sim, porta não, cafés e restaurantes amorosos nas principais praças e vistas para as montanhas muito agradáveis.
Para além disso, como hoje se comemora o dia da assinatura do armistício que pôs fim à 1ª Guerra Mundial e é portanto feriado nacional, havia uma pequena celebração com gente fardada e gente à civil na qual a minha colega e eu nos imiscuímos, com bebida e comida incluídas, que calhou mesmo bem à hora de almoço.
Gostava imenso de dizer que irei retornar a Mougins mas parece que há tanto para ver na Côte d'Azûr que entre as cidades principais, as zonas à beira-mar, toda a parte de Provence com os seus campos de lavanda, as montanhas e as vilas e aldeias mais para o interior (e já nem falo de outras cidades mais longe como Marseille, Avignon ou Toulouse que também queria muito visitar), vai ser difícil optar por retornar a um sítio onde já estivémos ao invés de irmos conhecer um novo local.
Há oito anos que estou habituada a ter uma companhia canina sempre comigo. Faz-me falta ter uma coisa feita de pêlo que abana o rabo e pede festas no lombo. Na impossibilidade de ter um amigo canino aqui no anexo onde estou a viver com mais duas colegas, decidi que era tempo de me lançar no fantástico mundo dos felinos e eis que agora tenho um gato.
Queria um nome intelectual já que geralmente os gatos estão nem aí para o nome. Escolhi Marcel Pagnol porque adoro os romances deste escritor/cineasta que fez parte da Académie Française. É perfeitamente normal que este nome não diga nada a um português. Não é nenhum Voltaire ou Molière ou Victor Hugo. Mas fiquei surpreendida porque só uma pessoa aqui do hospital é que percebeu que o nome era de uma personalidade minimamente importante na literatura e cinematografia francesa.
Nomes à parte, é uma bolinha de pêlo muito fofa que gosta de me atacar os dedos com as suas mini garras afiadas e os dentes pontiagudos, que me fez chichi na colcha e que corre que nem um desenfreado pelos escassos metros quadrados que é o nosso apartamento. Se no final deste internato regressar a Portugal, espero que a Amora pelo menos o consiga tolerar. Estou confiante que sim, é uma questão de hábito e ela já não é tão tonta com gatos como era há uns anos atrás. Que esta aventura felina dure muitos e bons anos!
Bem...domingo lá fui correr mais uma maratona, assim como quem não quer a coisa. Como já tinha treinado para a de Lisboa, achei que mais valia fazer já outra porque o que custa mais numa maratona são mesmo aqueles treinos longos que uma pessoa tem de fazer sozinha. O percurso unia Nice a Cannes, quase sempre à beira-mar, e era bastante plano, o que é óptimo para bater recordes pessoais. Para além disso o tempo estava ideal - choveu um bocado antes da prova mas durante caíram apenas uns pingos e estava fresquinho, para além de que não havia vento. Já aqui antes tinha referido que os franceses são os campeões quando se trata de ir apoiar os atletas na rua e pude comprovar isso mesmo no passado domingo. Nem mesmo a chuva e o frio demoveram estas pessoas de, ao longo de quase todo o percurso, irem apoiar aqueles que iam à procura de realizar um sonho.
Lá fiz a maratona em 3h37 (menos 8 minutos que a de Lisboa!) e apesar de achar que daqui a outras três semanas estaria pronta para mais uma, tenho de dar algum descanso aos meus joelhos, que se ressentiram um pouco do esforço. Maratonas agora só em Abril, em Paris.
Parece que foi noutra vida que os nossos caminhos se cruzaram, como se entretanto muitas outras se tivessem passado e não fôssemos agora nada mais do que matéria amorfa, um limbo entre algo real e aquilo que nunca chegou a ser. Não esqueci a sensação dos teus lábios no meu pescoço, nem a forma com que murmuravas o meu nome de olhos fechados como se fosse um segredo só nosso, muito menos o calor da tua pele a roçar na minha. Não esqueci a perfeição que atingíamos no silêncio da noite, com as estrelas a pairar sobre nós. Mas todas essas sensações são agora vagas, turvas, como a água límpida de um rio que desagua no oceano e aos poucos se começa a misturar com a água salgada. Parece que foi ontem que uma paixão avassaladora nos levou para um jogo perigo. E no entanto, já não me reconheço nesses gestos, já não me revejo na pessoa que fui, já não me identifico com o que disse, o que fiz, o que pensei a certos momentos. Se ainda te amo? Seguramente. Se ainda acredito que és o homem da minha vida? Sem sombra de dúvidas. Mas atingimos um estado de amor platónico, longínquo e distante, quase perfeito, o qual dificilmente será reversível. E por um lado, ainda bem. Sempre fui adepta de amores platónicos.
O meu francês é bom mas está longe de ser perfeito. Às vezes não tenho a certeza de que aquilo que estou a dizer está correcto gramaticalmente e muitas vezes faltam-me palavras. Ontem estava a falar com a minha colega de internato e saiu-me a palavra "alface". A rapariga ficou a olhar com cara estranha para mim e não disse nada mas eu percebi que alface em francês devia ter outra denominação. É "laitue" senhores, é "laitue". Pelo menos ainda não meti nenhum "fod*-se car****" a meio de uma frase em francês.
Antibes é uma cidade que fica a 10 km de Cannes, também ela à beira mar, e que deve fazer parte do roteiro de qualquer pessoa que deseje ficar a conhecer a Côte D'Azur. E nada melhor do que um feriado em que não se trabalha para partir à descoberta desta cidade francesa encantadora.
A zona antiga da cidade é amorosa, com as suas ruas estreitas, os canteiros de flores à janela, as trepadeiras que sobem pelas paredes, igrejas muito bem conservadas e uma muralha imponente que foi certamente útil na época em que a cidade sofria ataques marítimos vindos do mediterrâneo. Tem também alguns museus, incluindo um que alberga cerca de 50 obras de Picasso, mas que deixámos para uma futura visita. Já nem falo das pastelarias que exibem sempre coisas deliciosas nas montras que me fazem logo engordar só de espreitar, dos restaurantes com as esplanadas sempre cheias, do cheiro da maresia que me faz lembrar a minha casinha e do tempo maravilhoso que se fez sentir, com um sol impecável mas não muito forte.