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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

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Diário de uma Avec #6

   Para mim, as semanas mais difíceis de suportar são as que antecedem uma ida a casa e as que a precedem. As primeiras porque parece que o tempo passa mais lentamente de propósito só para nos enervar. As segundas porque o coração vem apertadinho, já carregado de saudades e a contabilizar a quantidade de semanas ou meses que faltam para retornar uma vez mais à pátria. 

   Dia 5 regresso a Lisboa para uma curta semana de descanso, e portanto já estou numa fase em que praticamente consigo ouvir o ponteiro dos segundos a arrastar o passo. Pior do que isso, já estou a pensar na quantidade de semanas que terei de sobreviver por aqui em Abril e Maio antes de poder pousar novamente os pés em Portugal para os Santos Populares, e depois como irei aguentar os quatro meses e meio seguintes. 

   A verdade é que até gosto de viver no sul de França, diria que sou feliz na maior parte do tempo, que aproveito o facto de aqui estar para aprender, viajar, ler mais e também treinar o "viver o momento" porque sei que vou ter saudades de muitas coisas quando me for embora. Mas há dias assim, em que o coração se aperta, temos um nó na gargante e não é fácil ser emigrante. E hoje é um deles.

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Cai Neve em Nova Iorq...Cannes, perdão

   Nunca em tempo algum pensei que fosse nevar em Cannes. No ano passado esperava que nevasse bastante em Knoxville e foi o que se viu - um nevão quase no final da minha estadia nos Estados Unidos que deu apenas para um dia bem passado na neve, sendo que esta derreteu na manhã seguinte. Posto isto, quando vi as previsões de precipitação sob a forma de pequenos flocos brancos aqui para esta cidade plantada à beira mar quase me engasguei a rir. 

   E não é que hoje, pelas onze da manhã, três graus positivos na rua, e começam os flocos a descer dos céus assim como se estivéssemos no meio das montanhas em pleno Inverno?? Nem queria acreditar nos meus olhinhos. Pensei que ainda estava a sonhar pois tinha estado a repousar o cérebro depois de uma noite de trabalho (quase nulo, mas ainda assim). É claro que me vesti logo a correr e saí para a rua tal criança que vê nevar pela primeira vez na véspera de Natal. Quase corri até às praias mas infelizmente a neve não aderiu e não foi possível observar aquela combinação deliciosa areia/neve. Ainda assim foi bonito passear pelas ruas da cidade com os flocos a esvoaçarem por todo o lado. Hoje durmo trabalho com um sorriso tosco na cara.

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Semi Marathon de Cannes

   Tenho andado motivada para treinar. Afinal de contas, a minha última prova foi há quase dois meses e tinha agora duas meias maratonas e uma maratona pela frente (agora tenho menos uma meia). Tento alternar os percursos aqui em Cannes mas na verdade fico sempre reduzida a três escolhas possíveis - beira mar, direita ou esquerda, e urban trail numa espécie de parque a dois quilómetros de casa - e isso às vezes cansa. Mas por outro lado, apesar de às vezes trabalhar setenta horas por semana, consigo ter tempo para treinar porque não há muito mais que eu faça por aqui a não ser correr, ver filmes, séries e ler.

   Estou a sonhar com o momento em que vou cruzar a meta em Paris a 8 de Abril com o coração a bater descompassadamente, os meus pais a aplaudir por entre o público, as pernas a tremer e a bandeira de Portugal erguida lá bem no alto e isso motiva-me ainda mais. Tanto que hoje, a pensar nisso, voei na meia maratona de Cannes. Se há sensivelmente um ano atrás batia o meu recorde pessoal dos 21km ao terminar a meia de Lisboa em 1h48, este ano cruzei a meta com dez minutos a menos quando o objectivo inicial era apenas chegar abaixo de 1h45. Estou feliz, orgulhosa até, com a convicção de que posso fazer ainda melhor.

   Esperam-me quatro semanas muito difíceis, com distâncias de mais de 30km intercaladas com a Meia de Lisboa dentro de duas semanas, na qual também irei certamente puxar um pouco mais no ritmo, pelo que espero que os joelhos aguentem a adversidade e as pernas e os pés se portem à altura porque uma lesão agora seria o fim do sonho parisiense. 

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Estaremos a Tempo?

   Hoje vi um documentário que há muito tempo tinha na minha lista de espera. Chama-se "Chasing Coral" e documenta o desaparecimento dos recifes de coral um pouco por todo o mundo durante o ano de 2016.

   É um documentário alarmante que regista, durante meses a fio, e dia após dia, as alterações observáveis no coral como consequência de um aumento da temperatura da água dos mares e oceanos. As algas e plantas começam a ficar esbranquiçadas para se protegerem dessa alteração a nível ambiental, desenvolvem uma espécie de carapaça e a partir daí não só já não conseguem crescer como acabam por perder a capacidade de fazer a fotossíntese e eventualmente morrem.

   Estima-se que em 2016, 29% da barreira de coral da Austrália foi à vida. 29% é praticamente 1/3. Fiquei chocada. Sempre foi um grande sonho meu mergulhar na Austrália e ver todo aquele recife cheio de cores, repleto de uma fauna e flora abundante. Aquilo que as câmaras mostram no final da investigação levada a cabo por estes cientistas é escuridão, vazio, morte. 

   O documentário acaba com uma nota de esperança, não é de todo aquele género de filmes que acabam na nota do "vamos todos morrer". E ainda bem porque da minha parte, já tinha lágrimas a rolar de um lado e do outro da cara. Diz-se que em 2050 já praticamente não existirão recifes. Quão triste é isto? E que impacto terá num ecossistema frágil como o nosso, em que se pensarmos nele como um castelo de cartas e tirarmos uma das que estão por baixo, corremos o risco de que tudo se desmorone?

   Eles acabam numa nota de esperança mas eu não sei se acredito que seja possível voltar atrás naquilo que fizemos e estamos a fazer com o nosso planeta. Há cada vez mais gente, cada vez mais bocas para alimentar, cada vez mais consumismo, e vai chegar o dia em que a Terra deixará de ser habitável. Teríamos de extinguir a espécie humana ou quase para que fosse possível devolver à Natureza aquilo que lhe pertence. É triste. Mas é verdade.

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O Amor Também Murcha

Um dia li-lhe no olhar que já não me amava. 

Não me disse nada de extraordinário

Nem tão pouco lhe descobri uma amante.

Apenas me fixou de olhos vazios

E soube que a nossa história era algo do passado.

Ainda me amas?

Silêncio.

Às vezes o amor também murcha.

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Ócio

  Há tanto para fazer num domingo de sol em pleno inverno, tantos lugares novos por descobrir, tantas culturas a experimentar, tantos sabores prontos a serem descobertos. E no entanto, mesmo tendo planos comigo própria para este domingo em especial, deixei de lado o despertador e permiti-me acordar quando o sol irradiasse os seus raios de luz através das persianas e penetrasse no quarto para me vir beijar a face docemente. 

   Olhei para as horas, já se fazia tarde. Para apanhar o comboio e cumprir os horários teria de me vestir à pressa, embalar uma sandes para o caminho e possivelmente correr até à estação. Deixei-me ficar. Que se lixe o Carnaval, os desfiles e todos os meus planos para um fim-de-semana de folga. Hoje decido ficar por aqui.

   Abro as persianas e o sol entra com uma força avassaladora, tal avalanche de neve. Deixa-me encandeada por breves instantes mas ainda tenho tempo de constatar que não existe uma única nuvem no céu azul. Atiro-me para cima da cama e sinto o calor tomar conta de mim. Este sol de inverno é das melhores coisas do mundo. Espreguiço-me e sorrio, em silêncio. Contemplo o meu quarto. Espaçoso, com uma cama de casal confortável, uma janela enorme por onde entra uma luminosidade majestuosa, e sobretudo, altamente personalizado desde que aqui cheguei e instalei as minhas medalhas e fotografias um pouco por todo o lado. É o meu espaço pessoal, o meu refúgio.

   Penso na sorte que tenho. O que poderia pedir mais desta vida quando nada me falta?

   Ergo-me de novo para abrir o vidro. O frio matinal contrasta com o fervor dos raios de sol. Sou de imediato transportada no tempo e no espaço. Estou na vila de Pedrogão Grande, sou criança, é altura do Carnaval e estamos a passar férias em família. O sol brilha mas faz muito frio quando vamos buscar pão fresco de manhã. Não se ouve um carro que seja, não se vê viva alma até meio caminho. Engraçado como basta uma simples sensação para se recuar anos no tempo.

   De volta ao presente, enrosco-me no edredão enquanto mordisco o lábio, indecisa sobre retomar ou não a leitura que repousa sobre a mesa de cabeçeira. Finalmente decido ir fazer um café com leite e acompanho com uma bela porção de chocolate porque porra, não há outro domingo igual a este na minha vida. Folheio o livro distraidamente pois há um som lá fora que me faz viajar de novo para longe daquelas quatro paredes. São as andorinhas que cantam ao sabor da brisa e comunicam entre elas com alegria. E de repente é verão e estou no meu quarto do Estoril, são onze da manhã de segunda-feira e há todo um dia inteiro de dolce far niente pela frente porque os três meses de férias grandes ainda agora começaram. 

   O sol esconde-se atrás de uns malditos prédios e há uma certa magia que se perde. Retomo a leitura, com os lábios repuxados para cima e uma tranquilidade na alma. Daqui a pouco vou no encalço dessa estrela maior, talvez até dê um salto à praia para sentir a areia debaixo dos pés e inspirar o cheiro da maresia. Mas por agora, o ócio de domingo é tudo o que me satisfaz, tudo o que me inspira, tudo o que desejo. 

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Ele

   Ele é especial. Debaixo daquele aspecto durão, por debaixo daqueles músculos e tatuagens, esconde-se o homem mais romântico que alguma vez conheci. Gosta de filmes lamechas, de tardes em frente à lareira a beber um chá quente e sonha com o dia em que, enroscados um no outro, possamos ficar a aquecer a alma debaixo de uma manta enquanto a chuva lá fora fustiga os vidros da janela.

   Ele fez-me perceber que até agora tinha dado muito valor a palavras, à espera que estas se transformassem em acções. Ainda mal tínhamos começado a namorar e já ele tinha comprado bilhetes de avião para estar comigo duas vezes este ano e marcado as férias de acordo com as minhas. 

   Ele é único. Nunca nenhum outro homem me fez chorar de felicidade. Muito menos duas vezes no espaço de alguns dias. E juro que não era aquela altura do mês em que às vezes me apetece chorar a ver uma comédia.

   Ele é esquecido, por vezes dá erros de português que me põem de cabelos em pé, agarra-se muito às redes sociais e é benfiquista mas até mesmo os seus defeitos me apaixonam.

   Ele é aquilo que eu nunca tive - alguém que me merece. 

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Grumpy

   No meu sexto dia de trabalho seguido das 8h às 20h e ainda com mais um em falta antes da folga, a ver toda a gente fazer ponte ou em feriado por causa do Carnaval (acho que isso nem existe aqui em França), mau tempo lá fora, sem vontade ou ideias para actualizar o blog, com dores terríveis nos joelhos e sem café a não ser daquele solúvel, that's me today! Estou como o Grumpy Cat, em modo "deixem-me em paz, quero hibernar".

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Ninguém Nos Ensina

   Ninguém nos ensina, ninguém nos explica como se faz. Talvez porque eles próprios também não o saibam. Um dia, simplesmente, é necessário fazê-lo. É preciso olhar alguém nos olhos, respirar fundo, e fazer com que aquelas duras palavras saiam da nossa boca sem vacilarmos.

   Há técnicas que se aprendem, existem métodos, estou certa. Não os conheço, não os sigo. As astúcias que aprendi foi a ver séries de médicos na televisão. O isolar as pessoas numa sala. Começar com "as notícias não são, infelizmente, as melhores". O explicar como tudo se foi deteriorando desde o momento em que estas pessoas à nossa frente nos confiaram uma parte importante da vida delas. Segurar algo nas mãos, um estetoscópio, por exemplo, para não mostrarmos nervosismo. Dizer que lamentamos. Um toque no ombro, se tivermos mais confiança com as pessoas. Sair um minuto - ou vinte - para que eles fiquem a sós.

   Não é fácil. Nem ao início, nem após vinte anos de experiência. Às vezes choramos com eles. Outras vezes aguentamos as lágrimas até podermos sair disparados para a casa de banho para soluçarmos à vontade. Dizer a alguém que o animal deles partiu é das coisas mais difíceis para um veterinário. Ainda pior quando conhecemos bem o caso, quando acompanhamos a sua deterioração ao longo de dias, semanas, meses. Às vezes até anos.

   Cada um tem a sua maneira de o fazer e não creio que haja uma que esteja errada, desde que tudo seja realizado com calma e tranquilidade. Ninguém nos ensina. Nem na faculdade, nem quando chegamos ao mercado de trabalho. É algo que se aprende com o coração e que é impossível transmitir ao próximo. É algo de pessoal, que nos toca na alma. 

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