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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

Quinta da Regaleira

   Depois de uma semana passada entre Portugal, Bélgica e Luxemburgo, foi tempo de regressar ao trabalho e às noites pesadas. Agora tenho estado a trabalhar durante o dia e portanto acaba por ser tudo um pouco mais soft, pelo que tive tempo de editar o meu segundo vídeo. Este é inteiramente dedicado à Quinta da Regaleira, que visitei com o meu namorado no dia em que aterrei em Lisboa.

   Já não entrava na Quinta da Regaleira há mais de dez anos e fiquei maravilhada. Penso que as imagens falam por si. Sintra deixa sempre boas recordações, isso é certo.

Estou completa

   Aos 24 anos, nunca tinha recebido flores. Nem apresentado ninguém aos meus pais. Nunca tinha saído com um namorado na companhia dos amigos dele. Nunca tinha feito planos de casamento com ninguém, ainda que de forma descomprometida, mantendo as ideias que tinha apenas para mim. Nunca ninguém me tinha trazido o pequeno almoço à cama, a não ser a minha mãe de vez em quando, ainda eu não chegara à escola primária. Nunca tinha entrado em casa de ninguém e visto fotografias minhas (nossas) espalhadas pelas divisões. Nunca tinha sido tratada como uma rainha como aconteceu nestes dias que estive em Portugal com o meu namorado. Espero nunca o deixar escapar. Encontrá-lo no meio de tanta escumalha foi melhor que acertar na chave do euromilhões. Estou completa.

Partir

   Deveria ficar mais fácil mas parece que só fica mais difícil à medida que o tempo passa. E o espaço entre cada regresso também se torna maior e maior, até se assemelhar a um buraco negro sem fim. Primeiro eram dois meses, depois três, agora serão cinco ou seis. Escolha minha, que preferi gastar as férias de Setembro na Ásia em vez de regressar a casa. Escolha minha, que decidi prolongar o contrato por mais um mês e meio. Não me arrependo. Mas o coração vem sempre apertadinho no avião, a pensar que seis meses em anos de cão equivale a uns quatro anos. A pensar que pode ter sido o último abraço que dei ao meu avô. Que é possível que em Março tenha visto a minha avó pela última vez. Que tenho uma pessoa maravilhosa à espera impacientemente pelo meu regresso. Que nunca se sabe o dia de amanhã.

   Regressar a casa vem sempre com o pressuposto de partir a seguir, eu sei. Mas uma pessoa pode habituar-se às filas de espera no aeroporto, aprender a distrair-se durante o voo, saber de cor as paragens do autocarro que faz o trajecto Nice Cannes mas nunca se habitua à tristeza que é ver Lisboa a ficar para trás - e com ela tudo o que me é mais querido, claro está - à medida que o avião rompe as nuvens. As lágrimas que derramou não se convencem. Partir só fica mais difícil a cada regresso.

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Desabafo

   Confesso que uma parte de mim escolheu Medicina Veterinária para lidar com animais e não com pessoas. Bem, saiu-me o tiro pela culatra porque afinal o que mais faço é lidar com pessoas. E se há algumas que são amáveis, compreensíveis, bem dispostas e inteligentes, também há muitas neuróticas, intransigentes, impacientes, chatas e reclamativas (esta palavra existe?).

   Elaborei portanto um top 5 com os comportamentos que mais detesto quando estou de serviço e tenho a dizer que não passa um turno sem que pelo menos um destes ocorra.

1. São 4 da manhã. O telefone toca. "Boa noite, o meu cão está a vomitar e com diarreia há quatro dias, posso passar aí agora?". NÃO, DEIXA-ME EM PAZ!! É o que tenho vontade de gritar ao telefone. Mas geralmente digo apenas com a maior amabilidade possível que se o cão está a vomitar e com diarreia há quatro dias, provavelmente não irá morrer se esperar mais quatro horas para vir a uma consulta diurna normal, ao mesmo tempo que penso "que raio de ser humano deixa o seu companheiro a sofrer durante quatro dias e se lembra que se calhar é melhor levá-lo ao veterinário às quatro da manhã". Se a pessoa insistir, digo-lhe para vir mas que como estamos a meio da noite vai pagar o triplo pela consulta e o dobro por tudo aquilo que eu fizer. Às vezes eles pensam duas vezes, agradecem a disponibilidade e chegam à conclusão que se calhar o Bobby aguenta até às oito da manhã. Se aparecerem mesmo, das duas uma: ou são excêntricos/malucos ou então o Bobby já está com três patas dentro da cova (às vezes quatro).

2. "Li no Google...". Leste o quê, pá? Que o quiabo é um óptimo tratamento para o vírus da esgana? Que esterilizar a gata é mau porque ela desenvolve tumores no cérebro? Alguém no fórum da Arca de Nóe deu um paracetamol ao coelho e ele milagrosamente recuperou de uma fratura? Uma pessoa passa sete anos a tirar um curso e depois duvidam daquilo que dizemos porque "leram no Google". É um tiro na alma.

3. Estou a meio da consulta e é uma da manhã. A dona do gatinho não fala muito mas mantém os olhos muito abertos fixos na minha pessoa. Quando acabo de auscultar parece ganhar coragem para perguntar "(Já) é veterinária?". NÃO PORRA! Estou aqui sozinha neste hospital à uma da manhã a fazer perguntas e a examinar o seu animal e sou auxiliar, queres ver?! Ou então a minha identificação na blusa diz claramente "doutoura" mas na verdade sou estudante. Esta acontece com frequência e às vezes olham para mim com tamanha suspeição que me sinto mal. Sei que sou jovem mas caramba, é outro tiro na alma.

4. "Ah, ele sempre foi comilão mas desde ontem que não deixou de comer". E o cão tem as costelas todas à mostra e já não se levanta com a fraqueza. Acontece o mesmo para a massa de dez centímetros no dorso que "cresceu esta manhã de repente, sra doutoura". Geralmente, uma pessoa que tirou o curso de veterinária é inteligente o suficiente para perceber que é mentira. Geralmente. 

5. "Queria falar com o dr. X". Não está. "Mas podia ligar-lhe e dizer que é a fulana Y por causa do Bolinha". É domingo e o dr. X está de folga. "Como assim está de folga a um domingo? Mas vocês não podem ter folgas, são veterinários e têm de salvar vidas 24/24, 7 dias por semana, sem direito a folgas ou férias!". Pois, infelizmente somos seres humanos e não máquinas. "Mas ligue e diga que é a fulana Y, de certeza que ele está disponível para mim". Nope, provavelmente, entre tantas centenas de clientes, ele não faz a mínima ideia de quem é nem qual é o problema do Bolinha. E esta última frase já não é para dizer ao cliente senão lá se vai o nosso emprego .
 
   Existem muitas mais coisas que me enervam no meu trabalho quando lido com as pessoas - as que pensam que tenho uma bola de cristal, as que saem da clínica a insultar toda a classe de veterinários por causa do preço das urgências, as que vêm e depois não vêm e depois decidem talvez vir daqui a três horas e depois se calhar deixam antes para o dia seguinte e o veterinário que fique toda a noite à espera, as que querem o antibiótico à força porque fez bem ao gato da vizinha, as que querem que prometamos que o cão vai sobreviver quando acabou de ser atropelado por um autocarro da Carris (aqui não é Carris mas percebem a ideia) e está cortado em fatias ou as que aparecem porque o coelho deixou de comer há uns dias e não podem ficar uma hora à espera da consulta (a sério, quantas horas esperam num hospital público, raios??) porque eu estou a meio de outra e tenho quatro animais epilépticos a vigiar no internamento mais um gato paraquedista que voou do 5º andar há um par de horas e tive que adormecer sozinha para colocar uma via endovenosa e iniciar os tratamentos. Mas o que vale é que depois há pessoas maravilhosas, gratas e algumas raras ainda que se apercebem da dureza que é ser médico veterinário nos dias de hoje. E depois há gatinhos bebés, claro. Senão já tinha desistido disto tudo e seria uma ermita a viver escondida da sociedade numa remota montanha nepalesa.
 
   E agora que já desabafei um pouco, é hora de recuperar destas noites horríveis que tenho tido e passar três míseros dias na pátria a comer sardinha, a beber sangria e a dançar ao som de música pimba para ver se me passa este azedume.

WanderGirl - o meu novo canal de Youtube

   De há já uns tempos para cá que acompanho vários travel vloggers no Youtube e admiro os seus trabalhos (e estilo de vida nómada, vamos admitir). Como este ano tenho viajado bastante e planeio continuar a fazê-lo, pensei que também eu me poderia estrear no Youtube e partilhar um pouco com o mundo aquilo que vejo com os meus olhinhos quando visito um sítio novo, dar a conhecer a gastronomia local e mostrar a cultura de um determinado país. 

   Não, não tenho um drone, nem uma câmara de filmar último modelo com bluetooth e ligação à internet, nem luzes especiais ou lentes que se acrescentam à câmara do telemóvel. Tenho um Huawei p10 e para o meu segundo vídeo já terei o auxílio de um selfie stick que também funciona como tripé. A edição é feita num programa gratuito super simples porque nunca fui grande espingarda a informática e não conheço muitos programas. O meu inglês não é 100% correcto e a música nem sempre bate certo com a imagem. Mas o que importa é que me divirta e que continue a aproveitar cada momento das minhas viagens, mesmo que por vezes tenha de perder algum tempo a gravar um vídeo. 

   Veneza foi o palco perfeito para a minha estreia e, apesar de ser um trabalho completamente amador, estou satisfeita com o resultado. Passei bons momentos a editar o filme e portanto penso que será algo a continuar enquanto me der prazer. Sintam-se livres de subscrever o meu canal "WanderGirl" para serem os primeiros a saber quando houver um vídeo novo (e para Junho temos Quinta da Regaleira, Bélgica e Luxemburgo nos planos de filmagem). Espero que gostem!

Caixa de Pandora

   Hoje abri a caixa de Pandora. Nela guardo algumas das minhas memórias mais antigas, certamente muitas delas especiais, a maior parte inesquecíveis. Tenho desenhos artisticamente pintados aos seis anos, o meu primeiro caderno de histórias aos oito, o bilhete do primeiro concerto aos onze, um mapa do mundo de uma revista da TAP recortado com doze, um origami de uma manifestação pelos direitos dos animais do PAN, o meu diploma de voluntariado com elefantes na Tailândia, a minha bucket list com cem coisas a fazer antes de morrer, confetis apanhados no concerto da Katy Perry, um certificado em como nadei com golfinhos em alto mar na ilha da Madeira, o dorsal da minha primeira meia maratona, o meu horário do estágio nos Estados Unidos, o meu cartão de embarque do MSC Opera, entre outros. Em primeiro plano, o bilhete daquele jogo de futebol que vimos juntos.

   Hesito entre deixá-lo junto das outras recordações ou simplesmente deitá-lo fora. Opto por deixá-lo ficar. Afinal de contas, é uma boa memória e é ali que deve permanecer - na caixa de Pandora, caixa de recordações passadas, que ficaram para trás, que não têm influência no presente, muito menos impacto no futuro. Apenas papéis e documentos que foram outrora cor, movimento, sorrisos, emoções, e que hoje não passam de memórias. Do que lá vai, e não voltará a ser. Uma caixa do passado, que me faz avançar em direcção ao futuro, de cada vez que me decido a abri-la com o sentimento de nostalgia na alma.

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Chouriços

   Sabem de quem tenho mais saudades quando estou assim longas temporadas fora? Sim, das minhas cadelas! Talvez também porque desde a última vez que estive em Lisboa pude ver os meus pais duas vezes em viagem, é mesmo com elas que mais anseio estar dentro de uma semana. Ver aquelas caudinhas a abanar quando me vêem, passar umas guloseimas por debaixo da mesa porque me sinto mal de as voltar a deixar uns dias depois, fazer aqueles longos passeios à volta do estádio de Alvalade, chamar-lhes nomes queridos e bizarros tipo "chouriços", brincar com as suas orelhas pendentes, chateá-las enquanto dormem ou sentir o cheiro característico delas. Onze de Junho, chega depressa!

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