A Cegueira é passar pela Vida sem Amar
Cheguei à conclusão de que andei trinta e dois anos de olhos fechados. Foi só hoje quando te vi que eles se abriram. Dizem que o amor é cego mas a cegueira é passar pela vida sem amar como eu te amei logo ali no momento preciso em que te vi passar. Usavas um vestido azul de verão e eu desejei de imediato pedir-te em casamento antes de te perder de vista. Segui-te até à estação de autocarros, fazia um calor tremendo, a tua pele morena tão apetecível ali tão perto da minha, deixei passar dois minutos para que não fosses apanhada de surpresa (faltavam quatro para o autocarro passar, segundo indicava o painel) e ajoelhei, lançando um atabalhoado "casa comigo que te vi há uns minutos e já não sei existir sem ti". Os teus olhos espreitaram por cima dos óculos de sol, azuis como o profundo oceano - por favor aceita que agora de repente só me apetece mergulhar nessa imensidão marítima que tens em ti - e permaneceste silenciosa durante vários minutos (poderão ter sido cinco segundos?) antes de aceitar. Apertaste-me a mão e ajudaste-me a levantar enquanto eu pedia mil perdões, não sei como me pude esquecer do anel. "Estive trinta anos à espera deste pedido, pensei que nunca mais" confessaste. E já não entramos no autocarro.