A razão do meu sorriso
Olhavam para mim na rua, e eu a princípio não entendi a razão. Ia com os auriculares nos ouvidos, a ouvir a minha música, distraída. Vi uma pessoa a olhar para mim, e uns metros mais à frente, mais outra. Quando me dei conta, estava a sorrir. Sorria desde o nosso encontro fortuito pela manhã, desde o momento em que me deste os bons dias e eu, como sempre, exibi um sorriso tímido e tosco de quem tem a língua presa, de quem se engasga com todas as palavras que tem entaladas na garganta, de quem sente o corpo todo a entrar em ebulição por causa de um simples olhar, de um leve toque. Uma hora e meia andei eu hoje, de casa para a faculdade, da faculdade para casa, três vezes para a frente e para trás, provavelmente sempre com aquele sorriso parvo no rosto, com borboletas na barriga, contigo na minha mente. Há dias em que as pessoas que passam por mim na rua devem achar que eu sou maluquinha por caminhar assim, de lábios repuxados para cima. E ainda bem.