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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

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A Terra Parou

   Era um dia aparentemente normal no Centro de Investigação Geológica das ilhas Marshall até que a Terra se imobilizou. Nem para a frente, nem para trás, nem em rodopios sobre si própria, como se a pilha se tivesse finalmente gasto.

   O telefone tocou, interrompendo  a leitura do jornal do homem calvo, cuja única tarefa era vigiar os sismogramas, que pacatamente prosseguiam os seus desenhos irregulares sem grandes alterações. Pousou com desagrado a chávena de café em cima do jornal, acabando por entornar uma porção, prontamente absorvida pelo papel. Era o Presidente dos Estados Unidos, que não conseguia adormecer com toda aquela claridade que, à meia-noite, não havia meio de desaparecer dos jardins da Casa Branca. Segundos depois, outro telefone se pôs a tocar. Era o Primeiro Ministro Japonês irritado. Estava há duas horas sentado no alpendre à espera dos primeiros raios de sol para dar início à sua aula de ioga e a noite permanecia escura como breu.

   O homem estupefacto, sem saber como descalçar aquela bota, foi espreitar à janela. Constatou consternado que a sombra das palmeiras permanecia imutável desde que assumira o seu posto de trabalho algumas horas antes.

   O retinir ensurdecedor dos telefones tornou-se, numa questão de minutos, insuportável. O governante chinês queixou-se de não ter empregados suficientes para lhe servirem o pequeno-almoço porque os transportes estavam encerrados, o dirigente argentino barafustou com o zumbido incessante das moscas, que há horas deveriam ter recolhido e o ditador norte coreano ameaçou cortar-lhe a cabeça ao julgar que se tratava de um ataque terrorista contra o seu país.  

   Descendo até ao areal de mãos na cabeça, o homem olhou para o céu, em busca de uma resposta. E ali estava a lua, de mão dada com o sol, eternos apaixonados que tinham finalmente deixado de fugir um do outro.