Campeonato Nacional de Escrita Criativa #7
O 7º desafio consistia em escrever um texto na perspectiva de uma mulher que estava a ver os dois filhos, ainda crianças, a brincar, em menos de 300 palavras. Quem vê a série "The 100" vai perceber logo que houve aqui alguma inspiração vinda da mesma.
Nascidos e criados numa lata metálica, prisioneiros do tempo e do espaço, impedidos de serem crianças como eu outrora fui. Espreitam pela janela panorâmica, apontando para um planeta azul que se ergue em toda a sua imponência por entre um céu estrelado e ainda assim escuro como breu. Para quando o queimar dos raios de sol sobre a pele ingénua da idade pueril, o aroma das flores que crescem selvagens no campo, trazido pela brisa do final de tarde, o marulho das ondas que quebram na praia sob o olhar atento das gaivotas, o saborear de uma maçã colhida directamente da árvore?
Doces garotos que contam histórias de criaturas da savana com presas em marfim e três toneladas de peso, desconhecendo que estas existiram em tempos. Pobres meninos que ouviram falar das conquistas dos mares e oceanos e nunca experimentaram a sensação de flutuar. Inocentes crianças que toda a vida sonharam com a graciosidade do voo de uma borboleta, com o esplendor do salto de uma baleia acima do nível da água, com a musicalidade do vento num dia de tempestade, e vão suspirando enquanto o planeta lá longe dá mais uma volta sobre si próprio.
Não se tornem homens ressentidos com as gerações passadas, pois foram esses sentimentos de rancor, esses lagos pantanosos de mágoa e uma insaciável vontade de se sobrepôr a outrém que tornaram as casas nas árvores nada mais do que esboços saudosos numa folha de papel perdida. Não abandonem nunca os sorrisos ao olhar para baixo, ao baterem no vidro com entusiasmo e ao proferirem as palavras que mais me orgulho de vos ter ensinado. Porque um dia regressaremos ao planeta a que chamamos lar.
“Olha mãe, está sol na Terra, está sol em casa”.
Estação Espacial Pacífico,
25 de Julho de 2051.