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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

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Ele e Ela

   Ele deu-lhe o número de telemóvel sem ela pedir nada. Claro que a expectativa foi elevada ao expoente. Na cabeça dela, quase que podiam casar já na semana seguinte. Ela ligou-lhe, precisavam de conversar. E assim ele também podia guardar o seu número. Encontraram-se, ele muito atarefado, ela sempre um passo atrás dele. Fez-lhe uma pergunta importante, ele recusou. Disse não ser a pessoa indicada, não se quis comprometer. Ela compreendeu. Indagou outras coisas, pararam ao sol. Ela deixou-o falar, e enquanto o fazia, observava também a forma com que ele roía a pêra com apetite. Admirou-se de ele comer caroços e tudo mas não teceu nenhum comentário sobre isso. Observou os contornos do seu rosto, a forma como o seu pullover azul marinho lhe assentava tão bem, devorou-lhe os gestos e fixou o olhar no homem por quem há tanto tempo suspirava.

   Espreitou para a janela que havia atrás dele, para ver se estava arranjada. Teve sorte, apesar da noite mal dormida, a sua figura parecia-lhe atraente e sentia-se confiante naquela saia bonita. Mas ele parecia distraído, distante. Fazia por vezes pausas para pensar um pouco desconfortáveis. Ela agitada, esforçava-se por parecer tranquila. Era qualquer coisa que ela fazia bem desde pequena. Cruza a perna, mexe no telemóvel discretamente, coloca um braço de encontro ao corpo. Ouviu-o atentamente, mas na verdade não o escutou (só mais tarde se apercebeu disso). De vez em quando, obrigava-se a desviar o olhar, para não parecer que o desejava com todas as suas forças, para que ele não visse que a única vontade dela era atirar-se ao seu pescoço e beijá-lo com ardor. Mantiveram sempre alguma distância. Para desgosto dela, mal se tocaram.

   Já no fim da conversa, ela observou a trajectória dos olhos dele e não pôde evitar um sorriso triunfal. A saia, ele lançou um olhar à saia, no instante em que ela começava a virar a cabeça para continuarem a caminhar até ao ponto onde cada um seguiria o seu caminho. Só por esse milésimo de segundo, tudo aquilo valera a pena. Antes de se despedirem, ela entrou numa conversa mais ligeira, disse algo na brincadeira e ele riu-se muito. Ficou surpresa, nunca o tinha visto a rir assim. E tinha sido logo ela a conseguir tamanha proeza. Ficou encantada, mais ainda do que já estava, se é isso possível. Quando virou costas, sentiu que tinha ido ao céu e regressava à terra naquele momento.

   Umas horas depois, apercebeu-se de que perdera muitas das palavras dele e arrependeu-se de não ter escutado melhor aquelas palavras sábias. Tomou também consciência de que ele nunca seria dela. Não há forma de ser assim. Ele não quer, ou pelo menos, não o demonstra. O desviar do olhar, as distracções, a falta de contacto físico, a ausência de qualquer sinal de que ambos pretendem a mesma coisa levou-a a tirar essas conclusões. Depois de ter estado no céu, desceu ao inferno para concluir que estar apaixonada é uma merda. Ele e ela não existe. Nunca.