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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

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Era Um Quente Dia de Verão

   As viagens de autocarro de/para as explorações que fazemos tantas vezes por semana têm de servir para alguma coisa.

 

   Era um quente dia de Verão, apesar de estarmos ainda no auge da Primavera. De vestido branco e pés descalços, ela caminhava por entre ervas e flores livremente, trauteando baixinho uma música da sua infância. Os grilos raspavam as suas asas umas nas outras e, ao longe, o chilrear dos pássaros preenchia todos os silêncios que o campo ia deixando vazios. Passava as suas mãos pelas plantas altas, afagando-lhes as folhas, e os seus pés entranhavam-se na terra em profundidade para que melhor pudesse sentir a energia da Natureza a atravessar o seu corpo.
   Naquela altura do ano, os campos pareciam verdadeiros arco íris. Uns metros mais à frente, nascia uma população selvagem de margaridas amarelas. À sua direita, a lavanda dava o ar da sua graça em tons de lilás. Mais ao longe, junto às colinas, a erva aparecia manchada de um vermelho sangue, cor que estava atribuída às papoilas solitárias que cresciam aqui e acolá. Sob os seus pés, um tapete irregular de flores brancas e minúsculas terminava a composição.
   O som de um galho a quebrar fez-se ouvir atrás dela. Virou-se, em sobressalto. Um rapaz loiro, mais velho do que ela, de camisa branca semi aberta e calções azuis escuros sorria, com um olhar matreiro espelhado no rosto. Ela devolveu-lhe o sorriso, aliviada por reconhecer  o seu melhor amigo. Tinha um rosto queimado pelo sol, uns olhos verdes da cor das lagoas da região, e não era muito mais alto do que ela. O seu peito a descoberto deixava antever os músculos que lhe cobriam o corpo e, igualmente descalço, emanava todo ele um charme de rapaz do campo dotado e trabalhador.
   Ele deu um passo em frente e ela recuou, semi cerrando os olhos em jeito de desafio. Os lábios do rapaz foram repuxados para cima e no seu rosto desenhou-se um sorriso. Deu mais dois passos e a jovem antecipou-se a ele, virando-lhe as costas e começando a correr pelos campos fora. O seu vestido ondulava ao vento à medida que as suas passadas iam eliminando terreno. Ouviu passos atrás de si, e quando virou a cabeça, reparou que ele estava no seu encalço. Mas ela era ágil, e os seus pequenos pés mal tocavam no solo, impulsionados pela adrenalina que lhe percorria o corpo. Atravessou os campos de margaridas selvagens, passou um pequeno arvoredo de oliveiras velhas, esfolou o pé numa pedra que se meteu no seu caminho e prosseguiu em direcção à lagoa mais próxima, onde tantas vezes uma manada de vacas se refrescava e abastecia nas horas de maior calor. A brisa quente da tarde passava por ela a uma velocidade estonteante, e batia-lhe na face com tamanha violência, que quase a obrigava a correr de olhos fechados. Mas apesar de veloz, quando iniciou a subida de um dos montes, as suas pernas falharam e ele alcançou-a, derrubando-a de uma forma desajeitada e caindo em cima dela.
   A rapariga ensaiou um grito de dor, ao qual ele correspondeu com um atabalhoado pedido de desculpas, e deixaram-se ficar assim, ele em cima dela, a respirar de forma ofegante, tentando recuperar o fôlego. O moço fixou-se nos olhos da jovem, tentadores como caramelo derretido, espectantes como duas estrelas cadentes, e deitou-se silenciosamente a seu lado para lhe fazer uma trança desajeitada apenas com uma mecha de cabelo cor de mel. Ela traçou os braços por cima do corpo e fitou as poucas nuvens que passavam no céu, fingindo-se distraída. A seu lado, um pequeno grupo de papoilas agitava-se ao sabor da brisa.

   Sem aviso prévio, ele deitou-se junto dela, braço contra braço, e alcançou-lhe a mão pousada sobre o peito, puxando-a mais para si. Depois esboçou um sorriso. Um sorriso puro e inocente de alguém que desconhece a malícia. A moça dedicou-lhe toda a sua atenção por uns instantes, e depois ergueu o tronco para lhe depositar um delicado beijo nos lábios húmidos. E não foram necessárias palavras para exprimir o que sentiam um pelo outro, ali, deitados no meio do arco-íris de flores que os rodeava, no meio do campo, num mundo só deles.