Hoje Encontrei-te
Hoje encontrei-te, apesar de não te ter visto. Foi enquanto fazia limpezas mais a fundo no quarto que me cruzei contigo. Nos ténis gastos e sujos, recordei os passeios que demos juntos, os concertos a que assistimos, os festivais que percorremos, as noites passadas a dançar sob um céu estrelado. À roupa, ainda se agarravam partículas da tua fragrância, exótica ao primeiro contacto, mas tão caseira e acolhedora passado algum tempo. Vi-te em palavras antigas, passadas para o papel, ora em alegria, ora em sofrimento, e encontrei escrito aquele que seria o nosso futuro. Nas moedas estrangeiras, relembrei todos os países que conhecemos juntos, as culturas que descobrimos e as pessoas que no nosso caminho se cruzaram. Nos discos de vinil, foram as noites em claro, passadas a estudar ao som de Sinatra e Stevie Wonder, ombro contra ombro, de lápis em riste. E nos filmes mudos (sim, porque tu gostavas era desses), ouvi as nossas gargalhadas, pelas tardes de Verão fora, a assistir às comédias de Charlie Chaplin. Hoje encontrei-te em todos os recantos do meu quarto e sorri.