Levaste Tudo
Queria tanto que aqui estivesses. A cama parece vazia e fria sem te ter a meu lado. As cores do quarto esbatem-se, e como que se transformam em tons de cinzento, sem graça, sem vida. A planta que descansava sobre a secretária morreu, não sei se de sede, se de saudade. A claridade dos dias soalheiros já não atravessa os vidros, deixando esta pequena divisão escura e sufocante. O relógio de parede deixou de contar os minutos, e o hoje é semelhante ao ontem, e igual ao amanhã. Nem o calor abrasador que se faz sentir lá fora penetra as paredes deste cubículo, quanto mais aquece o gelado coração que deixaste para trás. Nenhuma brisa marítima vem tirar este cheiro teu que impregna as roupas da cama, as almofadas do sofá, a roupa do armário. Os livros deixaram de ser aventuras intermináveis, romances apertados, policiais viciantes, e transformaram-se em palavras secas, desleixadas, que deixaram de fazer nexo. Não há nascer do sol, nem luar, nem adormecer ou acordar. Levaste tudo.