Não Te Sinto em Nada
Percorro em silêncio os caminhos que escolho sem saber. Abafo o som dos meus passos na esperança de te sentir aqui. Mas tudo o que consigo absorver se traduz apenas num imenso vazio.
Paro para respirar e apreciar a vista. As cores do Outono vestem (ou despem?) o arvoredo que acompanha o rio no seu percurso sonolento e tortuoso. O reflexo da ponte nas águas estagnadas transmite um efeito encantador à paisagem.
Suspiro ao imaginar os teus pés sobre a terra que os meus agora pisam e mordisco o lábio ao idealizar os teus olhos a varrerem a paisagem que, solitária, admiro.
Tento sentir-te no calor aconchegante do sol que vai espreitando por entre nuvens, no vento que me afasta o cabelo da cara, no silêncio refrescante que me preenche a audição.
Nada. Não te sinto em nada, em sensação nenhuma, em paisagem qualquer. Cada passo que dou é mais um na direcção contrária daquela para onde te diriges. Seremos nós realmente apenas duas linhas de caminho de ferro que se cruzam uma vez e seguem para sempre os seus caminhos separados? Então porque continuo eu a olhar para os destroços do dia em que os nossos corações chocaram a alta velocidade?