O Baile
Vou sonhando acordada. Dizem por aí que os sonhos às vezes se tornam realidade.
Eles sorriram um para o outro, assim que os seus olhares se cruzaram, apesar de estarem distantes e na companhia de outras pessoas. Ela tentou disfarçar em vão a felicidade que lhe encheu o peito quando o avistou num smoking azul escuro. O seu rosto iluminou-se sob os últimos raios do sol poente e as suas faces ruborizaram como duas cerejas maduras da Primavera. Desviou o olhar e beberricou o champanhe, esforçando-se para que não notassem o tremor das suas mãos.
Sentaram-se em mesas distintas para jantar. Ela lançava-lhe múltiplos olhares por entre a multidão e o ruído de fundo, mordiscando o lábio sem conseguir controlar a comoção. Ele varreu por duas vezes o salão com os seus olhos sedutores, perscrutando o espaço com atenção e terminando sempre por a observar discretamente. A comida foi acompanhada por copos de vinho que estavam constantemente a ser esvaziados. Ela bebeu demasiado e no final da refeição sentia a garganta em chamas e as bochechas vermelhas. Quando algumas pessoas se começaram a encaminhar para a pista de dança, inspirou profundamente para ganhar coragem e ergueu-se, encaminhando-se posteriormente para a mesa dele. Sabia que se não fosse ela a tomar a iniciativa, ele também não o faria.
Estendeu-lhe a mão, convidando-o para uma dança, sob o olhar atento dos seus colegas de mesa. Ele enrubesceu e aceitou com um sorriso tímido, deixando-se guiar por ela até à pista de dança. Quando ela se virou, colocou-lhe as mãos sobre a cintura, levando os dedos a deslizarem pelo tecido rosa suave do vestido e deixando que ela lhe envolvesse o pescoço com os braços. Os corações palpitavam mais depressa que as batidas da música, estimulados por aquele contacto extremamente próximo, e os dois corpos deixaram-se guiar pela pista como dois autómatos. Os lábios dele desenharam uma bonita curva no seu rosto, quente, acolhedora, formando como que uma enseada na qual ela se refugiou do resto do mundo. O olhar que ele lhe lançava provocava-lhe arritmias, tal era a intimidade do mesmo, mais profunda do que a de um beijo.
Ela nunca soubera dançar mas naquele momento deixou-se levar pelos passos dele e ambos fluíam pela pista de dança como se tivessem ensaiado até à perfeição todos aqueles movimentos. Quando a música abrandou, ele puxou-a de encontro ao seu corpo e ela repousou a cabeça no seu peito, inspirando fundo para melhor se deixar embebedar por aquela fragrância a pinho fresco. Fechou os olhos, concentrando-se em maximizar todas as sensações que os outros sentidos lhe transmitiam e guardou para sempre na memória aquele sentimento de felicidade plena que a consumia como um todo.