O Mundo é Fácil
Se me perguntassem o que gostava de fazer o resto da vida, a minha primeira resposta não seria "tratar de animais" nem nada que se relacionasse com a área que escolhi. Diria, sem hesitar, "quero viajar até aos confins do mundo até ao fim dos meus dias".
Ontem fui ajudar uma vizinha a planear uma viagem que ela quer fazer até à Indonésia, e ela emprestou-me um livro do Gonçalo Cadilhe. "O Mundo é Fácil". É um livro com os básicos para alguém que se quer iniciar nestas aventuras da mochila às costas, o que já não é bem o meu caso. Ainda assim, li o livro em poucas horas e o bichinho das viagens voltou logo a despertar (se é que ele alguma vez dorme).
Se pudesse, largava tudo e partia à descoberta do desconhecido, de novas culturas, de paisagens de cortar a respiração, de sabores exóticos e cheiros únicos. Partia à procura de mim mesma, porque às vezes sinto que me perdi (diria que foi pela Tailândia ou pelo Myanmar). Estou a dizer "se pudesse" mas na verdade, eu até posso. Quantas centenas, senão milhares de viajantes abandonaram os seus empregos estáveis, as suas famílias queridas, e o conforto dos seus lares para perserguirem o sonho que sempre os acompanhou ao longo da vida: o de viajar? E trabalharam por aí fora, em hostels, na apanha da fruta, na pesca, a limpar, em restaurantes, sempre apenas por alguns meses, até conseguirem reunir dinheiro suficiente para seguirem viagem? Não é uma questão de poder, mas sim, e perdoem-me a expressão, de ter tomates para o fazer. Acham que eu não tirava um curso de instrutora de mergulho e não me orientava por esses países tropicais todos a dar aulas aqui e acolá? Acham que não podia trabalhar em refúgios e santuários para animais, como a enfermeira veterinária que conheci no Elephant Nature Park, que esteve uns meses a trabalhar com os cães a fim de juntar dinheiro para passar umas semanas a viajar pelo resto da Ásia? E as meninas americanas que largaram a faculdade e foram um ano para Seul dar aulas de inglês a crianças, pararam ali no santuário de elefantes para umas férias, e prosseguiram caminho em direcção à Austrália, em busca de outras oportunidades de emprego? É possível, e muitos o fazem. Há que ganhar coragem.
Estágio, pós-graduação, internato, residência, doutoramento...parece tudo tão quadrado, não é? Tão linear...e previsível. Às vezes irrita-me estar nesta sociedade onde o caminho a seguir parece ser sempre o mesmo para toda a gente. Para já, vou-me manter nos trilhos, até porque o meu curso é dos mais caros que existem no país e ainda hei de querer devolver o dinheiro aos meus pais. Depois logo se vê. Talvez trabalhe dez anos, talvez vinte ou trinta. Se calhar nem chega a tanto. Vendo a casa, o carro, e gasto o dinheiro da reforma todo num dos maiores sonhos que habita este coração ardente: dar a volta ao mundo.
Uma foto parecida com esta já andou aqui pelo blog mas não me canso disto. Pôr do sol em Krabi, Tailândia. Um dos momentos mais marcantes da minha vida.