Paciência
O sol eleva-se ao longe da superfície plana que é o mar, desabrochando com esplendor para dar ao céu uma tonalidade que vai variando entre o rosa e o laranja. Ao longe, as montanhas parecem ganhar vida, erguendo-se como arranha céus naturais que contrastam com a horizontalidade do percurso que vou galgando. As ondas vão abraçando os rochedos junto à praia e fazem-me lembrar das tuas mãos que se entrelaçam nas minhas como se apenas unidas funcionassem. Inspiro profundamente e quase consigo sentir o teu perfume invadir-me as narinas antes de me aperceber que é antes o cheiro da maresia que me preenche a mente de uma sensação de tranquilidade. O vento beija-me a pele a descoberto e é como se fossem os teus lábios carinhosos junto do meu pescoço, envolvendo cada milímetro do mesmo com uma ternura extrema. Arrepio-me. O sol cega-me quando dou meia volta mas lembra-me os teus olhos brilhantes naquela tarde de Maio quando fomos à piscina. São dois astros que se comparam facilmente, os teus olhos e o sol. Basta observar com atenção. A cidade desperta finalmente mas o meu percurso está feito por hoje. Termino com o coração repleto de memórias e um sorriso algo melancólico no rosto. A chuva virá para limpar o resto da angústia, meu amor. É preciso paciência.