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Same Same But Different

Um blog repleto de ideias, textos, sonhos e aventuras de uma jovem maravilhada com o mundo em seu redor.

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Sempre que a Sirene Toca

Para a Tété, que foi como uma avó para mim.

 

   Sempre que toca a sirene dos bombeiros aqui em Pedrógão Grande, lembro-me de ti, pois foste tu quem me ensinaste a interpretá-la. Um toque significa que precisam de um bombeiro motorista. Dois toques é porque houve algum acidente de viação. Três toques e é o fogo quem chama pelos bombeiros. E eu continuo a contar o número de vezes que a sirene ecoa pela vila fora, religiosamente, como se fosse ainda aquela criança de uns talvez oito anos a quem ensinavas estas coisas. Foste como uma avó para mim, uma daquelas avós que aparece sempre com chocolates ou com bolachas e que gostava de distribuir beijos e abraços pela pequenada toda. Foste como uma avó para mim e nunca tive oportunidade de me despedir de ti, de te dizer adeus. Na realidade, talvez até tenha tido. Lá bem no fundo, eu já devia ter a consciência de que aquela seria a última vez que nos íamos ver, e foi por isso que o meu irmão, a minha prima e eu pegámos em duas caixas de cartão de Cerelac, as cobrimos com papel de jornal e nelas colámos uma fotografia nossa, pintando em redor da mesma as palavras “Nunca te esqueças de nós”, pois nessa altura já sabíamos que o Alzheimer se havia apoderado de ti. Por vezes pergunto-me onde estará essa moldura que nós construímos, se ainda existe, se foi para o lixo. Nesse último dia em que te vi, oferecemos-te essa moldura e lágrimas de emoção brotaram dos teus olhos. Disseste “nunca me vou esquecer de vocês”. Mas depois, a tua memória foi-se apagando com o passar do tempo. Já não sei quantos anos passaram desde que partiste, talvez estejamos a chegar à primeira década. Mas de todas as vezes que a sirene toca, eu ponho-me a contar e penso em ti, porque às vezes, fazes cá falta.